Comentário/ editorial  no Jornal da Manhã (Rádio Rural AM)
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Quando os portugueses chegaram a Porto Seguro em abril de 1.500, encontraram a praia cheia de muitos indígenas. Era uma gente alegre, falavam entre si, embora os portugueses não entendessem nada. Os invasores estrangeiros, no entanto, ocuparam a terra, fizeram casas e mandaram de volta seus barcos lotados de tudo o que encontraram e acharam interessante.

Na primeira resistência dos nativos, os mataram sem a menor dor de consciência, assim como quem mata uma cobra venenosa. E assim, até com a bênção do Papa se apossaram das terras pindoramas.

Passaram-se 500 e poucos anos, evoluiu a ciência, a tecnologia, houve várias guerras no mundo, as nações reconheceram 30 direitos humanos universais. No entanto, apesar de tantas leis bonitas, inclusive as leis que dizem respeitar os direitos indígenas, em 2008 no Brasil, na Amazônia, no Pará, os indígenas continuam discriminados, considerados obstáculo ao crescimento econômico. O incidente que houve nesta semana em Altamira revela bem esta mentalidade colonial.

O estranho funcionário da eletrotrobrás, veio a uma assembléia sobre a controversa construção da hidrelétrica de Belo Monte, fez um discurso ofensivo aos índios e a todos os amazônidas que discordam dos planos do governo federal; chamou um professor cientista da USP de mentiroso, chamou as populações da Amazônia de egoístas, mentiu, dizendo que a barragem a ser construída de 400 quilômetros quadrados não irá prejudicar nenhuma terra indígena. E aí, quando os brios feridos levou um grupo de índios a reagir, a TV nacional que pretende ser objetiva, mostra o invasor caído no chão, sangrando no braço, como uma pobre vítima indefesa agredida por ferozes Kaiapós.

Aí vem a polícia, vem a justiça e, provavelmente os índios serão presos e julgados como criminosos. O governo federal aproveita a cena para justificar a construção da hidrelétrica que é um crime social e ambiental mil vezes maior do que um pequeno golpe no braço de um agressor. Assim fizeram os portugueses, assim continua fazendo o “civilizado” Estado brasileiro. Em 1.500 índio não era gente, hoje amazônidas são egoístas. Em 1.550 o Papa abençoava a invasão, hoje o governo federal impõe a destruição da Amazônia em nome da “solidariedade” com as multinacinais e as indústrias do sul, todos benefiados pelo PAC.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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