O SENTIDO DE UMA PRESENÇA

Hoje a Igreja Católica celebra o dia de Corpus Christi, que é uma retomada da 5ª f. Santa, dia em que foi instituída a Eucaristia. Além da celebração da Missa Solene, haverá procissões em todos os recantos , dioceses, paróquias e capelas.Alguns lugares mantêm a tradição de colocar imensos tapetes de flores para a hora da procissão com a Hóstia consagrada,isto é, o Santíssimo Sacramento. Os católicos, e vários outros ritos, ligados ou não a Roma, ortodoxos, bizantinos, coptas, melquitas,etc.,acreditam na presença real. Os anglicanos têm uma reverência especial para esse momento litúrgico.Os irmãos evangélicos, das igrejas históricos têm um grande respeito à Ceia do Senhor, assim como os grupos constituídos mais recentemente.Os luteranos, continuam, de alguma forma, a crença do seu fundador. Para Lutero a Eucaristia consistia na presença real “in actu”, isto, enquanto dura a celebração há “a presença real”, como a denominam os católicos – após a Ceia, aqueles elementos não conservam mais a dimensão espiritual que tivera na celebração.

De qualquer forma, o Cristo, “o pão vivo descido do céu”, pode ser encontrado através de diversas “memórias”, e assim, o “fazei isto em memória de mim”, continua de forma litúrgica e sacramental, alcançando-nos nos nossos dias.Durante a celebração litúrgica faz-se a memória de Jesus, de sua vida, de sua morte, de sua ressurreição, e assim, Ele se torna presente no meio de todos, crentes e descrentes.

É interessante observar que na grande parte das religiões conhecidas, o alimento tem uma preponderância. Ele é sinal de vida. Os judeus, no Antigo Testamento, além de oferecerem as primícias da terra e dos rebanhos ao Senhor Deus Criador, após a libertação do Egito, começaram a celebrar a Páscoa (Pessach em hebraico), isto, a passagem salvadora de Javé que os libertara do inimigo.No cristianismo, a Última Ceia de Cristo , o pão e o vinho consagrados, são o centro de toda a sacramentalidade. Os primeiros cristãos chamavam-na de “bonum maximum”, isto é, o bem maior que temos, ou que Cristo deixara aos seus seguidores. A Teologia clássica diz que “a Igreja faz a Eucaristia e a Eucaristia faz a Igreja”. Também é bom lembrar da sacralidade que representa o alimento no candomblé, religião tão próxima da formação religiosa de muitos brasileiros e tão bem representada aqui na Bahia. Lá a comida do homem torna-se comida de santo, e repetindo o antropólogo Raul Lody, “santo também come”.Assisti numa 6ª f. Santa no Candomblé do Pai Edinho de Maragogipe, a uma refeição sagrada em homenagem ao Cristo Morto. Que ambiente místico, impregnado de oração. Todas as comidas baianas foram apresentadas, além do bacalhau. Tudo era realizado num clima de silêncio. Todos sentados numa grande mesa, mas como eram muitos os filhos-de-santo, havia outros sentados pelo chão. No final da mesa havia um pequeno altar com a cruz, um cálice de vidro com vinho, pão e trigo e a Bíblia. No final da refeição, o Babalorixá fez uma prece em ioruba, acompanhado pelos presentes. Quando todos terminaram, a comida que sobrou foi envolvida com as toalhas da mesa e levada em procissão para ser “sepultada” no bosque que fica ao lado do Terreiro. Dessa forma, eles reverenciaram, com a comida,a memória do Corpo do Senhor Morto.

Na tradição cristã, a Eucaristia é chamada por várias designações : Ceia do Senhor, Fração do Pão,Assembléia Eucarística, Memorial, Santo Sacrifício,Santa e Divina Liturgia, Comunhão e Santa Missa.
Com relação à história, paradoxalmente, essa festa foi instituída numa época em que se comungava pouco. A primeira celebração data de 1246 em Liège, na Bélgica e foi o Papa Urbano IV, que, pela Bula “Transiturus”, de 11 /08/1264, estendeu a toda a Igreja essa festa .Ptolomeu di Lucca afirma que foi Santo Tomás de Aquino quem redigiu, a pedido do Papa, os textos da Missa dessa festa. Ao longo do século XIV a data tomou um grande desenvolvimento na cristandade e criou-se o costume de fazer uma grande procissão, começando o costume de se colocar a Hóstia consagrada em relicários, que se chamaram de ostensórios.

A oração, chamada de “Seqüência”, cantada nesse dia, diz em alguns dos seus muitos versos:
“Quão solene a festa, o dia , que da santa Eucaristia, nos recorda a instituição / O que Cristo faz na Ceia, manda à Igreja que o rodeia, repeti-lo , até voltar / Faz-se carne o pão de trigo,faz-se sangue o vinho amigo, deve o crer todo cristão / Pão e vinho , eis o que vemos, mas ao Cristo é que nós temos, em tão ínfimos sinais”.

*Prof. da Uneb, da Faculdade 2 de Julho e da Cairu. Membro do IGHB, da Academia Mater Salvatoris, da Associação Nacional de Interpretação do Patrimônio.Colabora nas Paróquias da Vitória e de S. Pedro.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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