Quem nós éramos? Quem nós somos? E quem nós estamos nos tornando? (Parte I)

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“O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são, enquanto não são” (Protágoras de Abdera, 480 a 410 a.C.) – “Eu Sou o Caminho, a Verdade e a Vida” (Jesus Cristo – em João 14:6)

O propósito essencial e leitmotiv desta nova série de artigos que passamos a escrever é levar o leitor à reflexão – e, conseqüente, discussão – sobre o mundo em que vivemos, tomando-se em consideração, especialmente, os fundamentos culturais e valorativos da que conformam o (in)consciente individual e coletivo da nossa sociedade.
A idéia é tentarmos conhecer e compreender as razões e os porquês de sermos quem nós somos e quem nós estamos nos tornando, seja no contexto da família, seja no contexto da escola, seja no contexto do trabalho, seja no contexto religioso.

A idéia, também, é tentarmos desvelar os valores que motivam as nossas ações e as causas e fundamentos do contexto existencial no qual, queiramos ou não, estamos inseridos ou, mais que isso, verdadeiramente, submersos.

Não é à toa que os chamados sete pecados capitais (São Tomas de Aquino, in “Suma Teológica”, 1.273) – luxúria, avareza, soberba, ira, inveja, gula e preguiça (e acrescentaríamos aí a “rebelião”, no sentido de insubmissão total e de “quem manda em mim sou eu!”) -, mais do que nunca, em alto grau e medida, têm feito parte da individualidade humana e têm se tornado elemento de ligação na teia das relações sociais e institucionais.

Por que assim o é? Por que assim tem sido? Por que, em vez dos sete pecados capitais, não conhecemos e praticamos as setes virtudes fundamentais “humildade, disciplina, amor, castidade, paciência, generosidade e temperança”?

Não é à toa, também, que hoje, mais do que nunca, não temos mais referenciais absolutos a serem evidenciados e tomados como padrão de conduta. Tudo é relativo e depende do prisma do observador, de modo tal como se o homem, individualmente, por si só, fosse a medida de todas as coisas, como afirmou o sofista Protágoras cerca de 500 anos antes de Cristo e como pregaram e levaram, tal idéia, às últimas conseqüências, os iluministas, a partir do século XVIII da era Cristã. Aliás, conforme veremos nesta série, esse pensamento sofista e ateísta levado à cabo, como mentor e motor da história, nos últimos 200 anos, por intelectuais, por governos e instituições, explica, essencialmente, o que somos hoje e os porquês do estado de mazela moral e social em que nos encontramos.

Em verdade, vivemos hoje uma dicotomia existencial que precisa ser compreendida em nossas mentes, a fim de que nos posicionemos e saibamos pautar as nossas ações. Tal dicotomia existencial se constitui porque, olhando o mundo pelo prisma cultural, científico e filosófico, estamos vivendo sob os fundamentos valorativos do chamado pós-modernismo. Por outro lado, olhando, agora, o mundo pelo prisma moral-religioso e institucional, estamos, ainda, vivendo sob a égide e os fundamentos valorativos da chamada “Era Cristã”.

Assim, uma compreensão, analítica e abalizada, desta dicotomia existencial – “Cristianismo versus Pós-modernismo” -, na qual estamos inseridos, precisa ser realizada por todos nós, a fim de que não nos tornemos pessoas autômatas, néscias e alheias ao que acontece, diuturnamente, no contexto social e institucional em que vivemos; porque, se assim o formos, não mais conseguiremos – como já se vê, em muitos – discernir entre o certo e o errado, a verdade e a mentira, a sabedoria e a falácia, o bem e o mal, enfim, discernir entre os pecados capitais (e os não capitais) e as virtudes fundamentais (e as não fundamentais). O grande risco que estamos a correr é o de viver sob a égide do fundamento ateísta que temos aqui denunciado e que tem levado a sociedade a assim ser:
“O ‘em si mesmo’ tornou o ser humano um ‘dependente’, um ser sem expectativa, sem ideal, sem propósito eterno, porque o que vale é o ‘carpe diem’ e a satisfação diária dos ‘meus interesses pessoais’, custe o que custar. E quando eu satisfaço os interesses que estão no meu coração eu vou em busca de outros interesses. E, assim, a vida passa, sem propósito existencial nenhum. A sociedade pós-moderna enlaçou o ser humano na sua própria fraqueza, no seu próprio egoísmo, no seu próprio hedonismo. E o resultado de tudo isso é a deturpação moral em que vivemos, a letargia social na qual nos encontramos e o individualismo exacerbado que cultivamos e ensinamos aos nossos filhos.”

Nós não fomos sempre assim. Quem nós éramos? Quem nós somos? Quem nós estamos nos tornando? O que é o “Pós-modernismo” e quais são os valores que o fundamentam? Ainda sabemos quais os valores do Cristianismo, ou sabemos apenas os valores e dogmas de uma religião? E mais que isso: vivemos o que sabemos sobre Cristo ou o relativismo cultural já atingiu e falseou, em nosso imaginário, a obra da Cruz?

E mais: o homem, é sim, a medida de todas as coisas, das que são e das que não são ou existe um Caminho, uma Verdade e uma Vida?
A todas essas questões, tentaremos responder nesta nova série de artigos.

(*) Cristão, Advogado e Professor da UFS

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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