Na liturgia eucarística, logo que termina a narrativa da Ceia, em que Cristo toma o pão e o vinho e diz “isto é meu corpo, isto é o meu sangue”, o celebrante apresentando essas duas espécies, proclama :”Mistério da fé”. Isso significa que o que está sendo realizado no altar só é compreensível por uma opção de fé. Aqui os raciocínios lógicos, “cartesianos”, perdem seu significado. Diante das palavras e ações de Jesus, o homem contemporâneo não é diferente dos outros de então. Não acha fácil superar as aparências e olhar com os olhos da fé e nem compreender que a vida, seu sentido, vem unicamente dEle.”Tu tens palavras de vida eterna;nós acreditamos que Tu és o Santo que vem de Deus”, disseram os discípulos em determinado momento de desafio da fé.

Há pesquisas, como uma da revista Seleções, realizadas fora do âmbito religioso, com o objetivo de investigar quais são as crenças do homem moderno no que se refere ao plano invisível e revela que 95,3 % dos brasileiros crêem em Deus…

No Brasil, essa pesquisa foi realizada pela Internet com 2.600 pessoas maiores de 18 anos, das cinco regiões do país. Esse levantamento trouxe uma metodologia que permitiu aos entrevistados refletir sobre suas crenças e responder por escrito a algumas questões.
A grande questão apresentada foi se “Deus existe”. No Brasil, o percentual, citado acima, foi mais do que alto. Essa pesquisa foi alargada a muitos outros países, por isso, a porcentagem de brasileiros crentes só é menor do que a registrada na Polônia que foi de 97%. A média dos europeus que crêem é de 71%. O índice mais baixo é o da República Checa, com apenas 37%. Portugal é o segundo mais fervoroso com 90% que acreditam em Deus, seguido, surpreendentemente pela Rússia que tem 87% de fiéis, isso há apenas uns anos após o desmantelamento do regime comunista. Na Argentina, o índice chega a 74% de crentes e nos Estados Unidos, país de tradição cristã, outra pesquisa apurou 79% de crentes em Deus…

Dos brasileiros pesquisados, apenas 1,3% foram enfáticos ao responder “Não” à pergunta sobre a existência de um Ser Supremo. O argumento de um representante de vendas em Friburgo, é que “deixei de crer há cerca de dez anos, quando me dei conta da realidade do mundo. Não acredito em espiritualidade, e sim na ciência; acho que para tudo existe uma explicação lógica”.De acordo com o IBGE, nos últimos 40 anos o número dos sem-religião no Brasil saltou de 0,5% para ,4% da população. Mas podemos nos perguntar se o brasileiro está se tornando ateu. De acordo com o estudo “Mudança de religião no Brasil – desvendando sentidos e motivações”, do CERIS, Centro de Estatística Religiosa e Investigações Sociais, menos de 1% dos brasileiros que se consideram sem-religião, se diz ateu. 45% dizem que têm uma espiritualidade própria, sem vínculos com instituições.
A professora Sílvia Regina Fernandes, do Instituto Multidisciplinar da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, diz que “esse estudo mostra que a discordância de princípios, normas, e doutrinas leva ao abandono da religião. Dos sem-religião, 80,1% já haviam sido vinculados a alguma expressão religiosa. Hoje existe a valorização de uma religiosidade independente”.

Muitos dos entrevistados não escondem sua decepção com as crenças tradicionais, argumentando que a religião está se tornando um simples comércio – “Não vejo necessidade de entrar numa igreja ; para mim, é mais sensato me recolher e ler a Bíblia sozinho,na mina casa”, afirma um Inspetor de Qualidade, em Paranaguá. Para muitos brasileiros a vida cotidiana da fé se expressa em outro leque de possibilidades muito amplo, que se estende bem além das paredes de um templo. A pesquisa de Seleções não deixa dúvidas de que existe Deus para quase todos os brasileiros, mas ela também mostra alguns traços particulares da nossa religiosidade. Mais da metade dos internautas consultados crê na força do destino (52,9%) e em mau-olhado(51,5%), 38% acreditam em passes e em previsões do futuro como : horóscopo (22,6%), quiromancia(16,3%), e tarô (15,9) e 10% dos pesquisados acreditam em correntes de e-mails.
Como interpretar todas essas vivências?

O professor Lísias Nogueira Negrão, coordenador do Centro de Estudos da Religião Douglas Teixeira Monteiro, da USP, comenta: “Há uma tendência de individualização da espiritualidade no mundo ocidental. As pessoas vivem suas crenças na intimidade, sem vínculos com instituições- por exemplo, lendo textos sagrados, ou fazendo meditação em casa. Por aqui, isso é mais acentuado : o brasileiro constrói o próprio cardápio, combinando elementos de diversas religiões. É muito grande o número de pessoas com alguma duplicidade religiosa”.

Na verdade, a verdadeira fé cristã, pede uma confiança-fé plena mas não passiva , sem reservas, Pelo contrário, precisamente dessa confiança nasce sua atividade, porque sabe que seu trabalho é continuação da obra criadora de Deus. A pessoa se sente colaboradora de Deus, e como Ele, “construtor para a eternidade”. Por isso mesmo, trabalha como se tudo dependesse de seu trabalho, e confia em Deus como se tudo dependesse de sua intervenção.

*Professor da Uneb, da Faculdade 2 de Julho, da Cairu. Membro do IGHB, da Academia Mater Salvatoris, sócio efetivo da ANIP-Br, Associação Nacional de Interpretação do Patrimônio. Colabora nas Paróquias da Vitória e de S. Pedro

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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