Djanira Silva 15 de abril de 2008

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Por mais que pensemos serem insignificantes os fatos que ocorrem no dia-a-dia, eles fazem parte de toda uma trama que bem poderia servir para escrever nossos romances, novelas ou simples histórias de amor, cheias de afetividade, ternura e emoção.
Um acontecimento comum que corriqueiramente observamos, leva-nos de volta a determinadas épocas fazendo-nos evocar fatos aparentemente sem valor, mas que, na realidade podem marcar os melhores momentos de nossas vidas.
Vem-nos à memória uma criança sendo levada pela mão, vestindo uma blusa muito branca e engomada, com um monograma no bolso, a calcinha azul, a bolsa escolar, uma lancheira e, o que é mais importante, um coração cheio de uma ingênua confiança num futuro que está inteiramente guardado na alma daquela que o leva pela mão para ajudá-lo a atravessar a rua e a vida, a caminho da escola e do desconhecido.
É o filho pequenino, cercado de todos os mistérios que envolvem o futuro, sendo levado orgulhosamente, para um lugar onde sequer sabe onde fica, mas que maternalmente está cheio de coisas muito boas, de virtude e sabedoria à espera do descobridor inocente e simples que irá aos poucos tomando conhecimento dos mistérios que surgem à sua frente.
A criança caminha pela mão da jovem mãe. Ambas cheias de esperanças. Uma, com essas esperanças firmadas, sabidas, sonhadas. A outra servindo apenas de repositório para elas. É, como diz Raul de Leoni “Todo um mundo a começar de novo”.
Quanto tempo passou?
Do outro lado da rua um jovem ajuda uma mulher a descer a calçada. É o filho quem agora estende a mão. No entanto, as diferenças são enormes. Ele não a leva a descobrir mundo algum e sim a prosseguir num caminho sem finalidade, sofrido e cansado. Leva-a a andar por um mundo que possivelmente desejaria esquecer. A conduz não para uma nova estrada, mas para a continuação de uma experiência de vida na qual não aprendemos a amar sem sofrer. Os filhos sempre nos levam de volta.

Hoje lembrei o tempo em que você andava pela minha mão e tinha um destino certo.Agora, existe, bem clara a evidência de que a velhice é um fato doloroso e cruel. Uma estrada sem fim e sem finalidade. É o ponto que encerra qualquer história.
Mas, não importa, alegra-nos o coração saber que no amor de todas as mães os filhos permanecem crianças.
Infelizmente sabemos ajudar nossos filhos a crescer. Eles sequer sabem nos ajudar a envelhecer.

Obs: Texto extraído do livro da autora – A MAGIA DA SERRA.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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