Paula Barros 8 de março de 2008

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Nasci mulher. Nunca precisei lutar para ser mulher, ou entender esse universo. Desde cedo aprendi com exemplos o que é ser mulher, sua importância e como se valorizar.

Aprendi com minha mãe que a mulher é uma guerreira, trabalhadora. Trabalha fora, cuida de filhos, administra casa e antes de tudo é mulher, nos seus mais belos instintos.

Minha mãe dizia: se tiver que estar com as unha pintadas ou ariando panela, lave as panelas sem ariar, e cuide das unhas.

Ela trabalhou muito para ajudar o marido para dar educação formal de boa qualidade aos filhos. Para ter sua independência. Mas ela dava o exemplo, como cuidar de quatro filhos, se cuidar, cuidar de casa, namorar, sair e passear.

Ela dizia: se tiver que cuidar de casa ou sair com o marido. Dê preferência a sair, passear, namorar. A casa depois vocês dois arrumam juntos. Assim como namoram os dois.

Ela sempre dizia, homem não quer só uma dona de casa. Se assim fosse, ele contratava uma faxineira, uma cozinheira, uma lavadeira. Ele quer uma mulher. Assim como ela queria um homem. E não apenas um provedor.

Meu pai por outro lado não dizia muita coisa. Talvez ele nem dissesse nada. Ele fazia. Conheci meu pai lavando as próprias cuecas. Aprendi que mulher não tem que lavar cuecas. Se não tivesse empregada em casa ele fazia as tarefas domésticas. Cuidou dos filhos quando minha mãe foi aprender a dirigir. Cuidou dos filhos enquanto ela estudou fora. Ele nunca quis ser servido à mesa. Nem que mulher escolhesse roupas para ele. Ele era independente. E me ensinou a escolher homens independentes e a ser independente.

Aprendi, e não sei com quem, que a mulher é dona do próprio corpo. Que ela é responsável por suas escolhas. Que ela tem que saber dizer sim e dizer não, e assumir as conseqüências.
Aprendi que na questão de engravidar, não tem essa de 50% responsabilidade do homem e 50% responsabilidade da mulher. Aprendi que é 100% responsabilidade da mulher. O corpo é dela. Ela vai passar 9 meses carregando um ser no seu ventre. Vai ter que mudar hábitos e rotinas e cuidar-se mais por causa disso. Vai ter que no mínimo amamentar 6 meses, e que só ela tem leite. E, caso o homem não assuma a responsabilidade de criar o filho junto com ela, ela vai assumir tudo sozinha, desde acordar a noite a educar um ser para a vida. Então a escolha é dela.
Aprendi a respeitar o ser humano, a natureza, os animais, independente de leis, ou dia.

Aprendi desde cedo que a mulher não tinha que ter dia. Que nenhum ser tem que ter dia.

Aprendi que as leis devem ser cumpridas, que todos são cidadãos, todos têm que ter seus direitos preservados. E se assim fosse, amanhã não estaríamos comemorando o dia internacional da mulher. Não teríamos a lei Maria da Penha. E não teríamos que estar implorando para se denunciar a violência contra a mulher. Ou escutando gracinhas, que o homem tem 364 dias e mulher só tem um dia.

Apenas seríamos mulher e viveríamos como mulher. Seríamos cidadã, com todos os direitos preservados.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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