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O avanço da fronteira agrícola na região do planalto santareno com a introdução da monocultura ganhou destaque com os incentivos dados pela Prefeitura Municipal de Santarém, na gestão do Sr. Joaquim de Lira Maia, aos grandes produtores vindos, principalmente, da Região Sul e Centro Oeste do país.

Como Santarém é privilegiada por sua localização geográfica sendo banhada pelos rios Tapajós e Amazonas, este último servindo como principal via de escoamento dos produtos da Amazônia para o restante do Brasil e do mundo, e por estar ligada ao Centro Oeste brasileiro pela Rodovia Santarém-Cuiaba (BR 163), e pelo fato de também ter um porto com grande capacidade para o comércio de exportação Santarém tornou-se um município estratégico para a implantação de uma agricultura forte com a produção de soja e arroz e na região.

Outro fator que contribuiu para esse processo foi a disponibilidade de terras e o baixo investimento nas lavouras nos primeiros anos, pois o solo mostrou-se propício, inicialmente, para esse tipo de agricultura.

Com todas essas facilidades, Santarém atraiu um grande número de produtores de grãos que se instalaram nas principais vilas do planalto santareno e Boa Esperança foi um pólo privilegiado por ter uma boa infra-estrutura e terra barata com muitas áreas de capoeira, o que agradou o produtor vindo de outras regiões do país. Aqui, os produtores de grãos encontraram conterrâneos do Sul do Brasil, Boa Esperança conta com uma grande colônia sulista, principalmente descendente do povo alemão.

No final da década de 1990 a agricultura mecanizada ganhou muitos adeptos na região e tornou-se comentário de progresso e desenvolvimento e uma maneira eficaz de dinamizar a economia do município, uma prática necessária, segundo especialistas, para o desenvolvimento da região.

Mas o que se viu foi uma desaceleração na economia local com a diminuição da produção de mandioca. A agricultura de grãos trouxe poucos empregos permanentes e apenas nos primeiros anos gerou renda para boa parte da população local empregando bastante trabalhadores e trabalhadoras na limpeza das áreas de plantio na tarefa de coleta de raízes. Porém, depois das áreas de plantio estarem preparadas, empregou-se um número muito reduzido de trabalhadores para operarem máquinas pesadas.

Dessa forma a monocultura não atendeu as promessas de um progresso e desenvolvimento para o bem-estar comum. Hoje, são poucas as pessoas que se beneficiam com a produção de grãos, apenas poucos comerciantes e donos de oficinas mecânicas.

A grande parte da população continua dependendo da produção da farinha de mandioca que tenta reerguer-se de uma profunda crise. E as marcas do progresso deixadas pela agricultura mecanizada são as grandes áreas de terra com sua paisagem modificada, verdadeiros desertos em miniatura, a valorização da terra e o inchaço populacional.

Atualmente está havendo um êxodo dos produtores de grãos que estão vendendo suas propriedades em busca de outras terras para obtenção de maior lucratividade, pois o plantio de soja na região tornou-se uma prática onerosa pela necessidade da utilização de insumos para recuperação do solo.

Devido a esse processo de expansão do cultivo de grãos na região a cultura da mandioca está atravessando uma séria crise. Grandes produtores de mandioca passaram a investir na cultura do arroz, enfraquecendo assim o abastecimento da matéria-prima para a fabricação da farinha de tapioca.

A recuperação nesse setor é lenta, mas a crise serviu de alerta e o cultivo da mandioca voltou a ser prioridade para a população local que se deu conta de que o progresso e o desenvolvimento com o cultivo de grãos na região não é para todos.

O que precisamos aprender com urgência é que a salvação para a economia local não é somente a expansão da agricultura mecanizada com a produção de grãos, mas um melhor investimento na diversidade de produção da agricultura familiar, pois essa sim abastece o mercado local com alimentos básicos.

*Professor da Rede Pública Municipal de Santarém
Pedagogo e Especialista em Ciências Sociais, formado pela UFPA
Graduando do Curso de Química pela UFPA.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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