Acordei pensando que ainda era muito cedo, talvez uma seis ou seis e meia. Puxei as cobertas, fiz corpo de preguiça, me aconcheguei nos travesseiros. Antes de voltar a dormir arrisquei olhar para o relógio, oito e meia e eu estava com uma preguiça de seis horas.
Precisava levantar cedo, praticar alguma atividade. Recomendações médicas. Parecia que em vez de ter dormido na cama a cama tinha dormido em cima de mim. Doía o corpo todo.
No banheiro olhei para o espelho e recebi um recado que me assustou: estava me tornando uma velhinha. O espelho fez a comunicação quase chorando.
O tempo escrevera uma história certa nas linhas tortas do rosto, dos olhos, do pescoço, no corpo inteiro.
Lembrei das palavras da minha mãe numa manhã de primavera – está ficando uma mocinha. Um dia, também de primavera, olhou-me admirada e disse: você está um moçona. Hoje, numa manhã de outono o espelho me disse tudo quanto já fui: já fui criança, já fui adolescente, já fui mulher madura. O que sou agora nunca fui, sou.