No primeiro contato que tive com o Colégio 2 de Julho para, exatamente, participar de uma reunião sobre a Faculdade que estava se organizando, fiquei espantado com a abertura ali encontrada. Havia na portaria um cartaz que anunciava a trezena de S. Antônio. Achei isso surpreendente num colégio evangélico. Depois soube que os alunos católicos tinham uma preparação especial com catequistas católicas como preparação para a primeira comunhão.

Este ano o colégio completa 80 anos, bem vividos, cheios de belas histórias e com uma vivência marcadamente dialogal. Isso ouvimos dos ex-alunos, antigos pais que relembram com nostalgia os bons tempos em que os filhos lá estudaram. Essa comemoração envolve o Colégio do qual brotou a Faculdade, tudo sacramentado pela Fundação que abriga ambas as instituições. O Colégio foi fundado por Irene e Peter Baker, missionários norte-americanos pertencentes à Igreja Presbiteriana. Inicialmente, as instalações estavam localizadas na Rua João das Botas, apenas com o curo primário. No ano seguinte transferiu-se para o Solar Conde dos Arcos, onde funciona até hoje. Esse casal fundador trouxe uma pedagogia inovadora na qual ninguém era discriminado.Isso é digno de ser sublinhado pois os tempos não eram de muito diálogo confessional e a pedagogia tinha obscurecimentos próprios da época.

Esse espírito dos fundadores marca o carisma dessa instituição.O nome “2 de Julho” não é apenas de fantasia. Mas todo o ideário que permeia essa data está presente no dia-a-dia dessa instituição.Na época militarista os seus estudantes engrossavam as passeatas estudantis , pois o seu ensinamento foi sempre baseado nos valores da coragem e da independência. Nos períodos difíceis da época militarista, quando a tortura se tornava uma prática normal no país, infligida aos presos políticos, militantes esquerdistas e tantos outros idealistas, muitos desses ali se abrigaram para fugir das perseguições, inclusive alguns dos seus professores.

As comemorações dos 80 Anos, realizadas na última semana de outubro, foram marcadas também pelo lançamento da 3ª Conferência Jaime Wright de Promotores da Paz e dos Direitos Humanos. O homenageado que dá título a essa Conferência foi um Pastor da Igreja Presbiteriana Unida e se notabilizou, no auge da ditadura militar, como promotor do grupo “Clamor”, identificado com a intransigente luta pela defesa dos Direitos Humanos.

Ao lado do Cardeal D. Evaristo Arns, na época Arcebispo de S. Paulo, foi um expoente do “Projeto Brasil Nunca Mais”. O coração de ambos foi marcado por um profundo espírito ecumênico. O tema da Conferência desse ano foi relacionado com o Meio Ambiente e teve como programação os sub-temas : O meio ambiente como um direito humano; Água, a guerra do futuro?; Aquecimento global e o futuro do planeta; Desenvolvimento sustentável: possibilidades e limites. No último dia foi a outorga do Prêmio Jaime Wright. O encontro reuniu especialistas, representantes dos setores governamentais e de movimentos sociais, professores, estudantes, alem de renomados convidados para discutir a problemática envolvendo o meio ambiente.

A reflexão sobre essa Conferência atingiu os alunos do Colégio. Seu diretor, o professor Celso Dourado, quis que esse tema fosse discutido em sala de aula, no nível dos alunos. A programação também foi marcado por um Culto de Ação de Graças, pelo Desfile de Fardas do Colégio 2 de Julho, por uma apresentação teatral intitulada “Memórias do colégio 2 de Julho”, também houve um jantar com alunos das décadas de 70 e 80, e até por um campeonato de xadrez.

A Faculdade 2 de Junho vem sendo dirigida nesses três últimos anos pelo professor Josué de Melo, que já fora Reitor da UEFS de Feira de Santana.Esse período tem sido marcado por uma revitalização da vida acadêmica. As três áreas , Comunicação Social, Administração e Direito, abrigam cerca de 2.000 estudantes. Há cursos novos que estão sendo apreciados pelo MEC. Foi inaugurado o prédio novo de Administração. A Faculdade vem numa expansão impar com uma infra-estrutura que tende a crescer. Há a Empresa Junior, o Núcleo em Práticas de Comunicação ( com Laboratórios de Telejornalismo com Ilhas de Edição de Textos, Radiojornalismo, Jornalismo Impresso e de Fotojornalismo), o Jornal Leia Salvador, o Núcleo de Práticas Jurídicas e Laboratórios de Informática.

As duas entidades, o Colégio e a Faculdade, pertencem à Fundação 2 de Julho, que tem como atual Presidente o senhor Moisés Domingues Souza.
Que o 2 de Julho,Colégio e Faculdade, continuem sendo “sal da terra e luz do mundo” nesse vasto cenário da educação baiana.

Prof. de Antropologia da Uneb , da Faculdade 2 de Julho, da Cairu. Membro do IGHB e da Academia Mater Salvatoris. Colabora nas Paróquias da Vitória e de S. Pedro. 

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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