D. Edvaldo G. Amaral 20 de dezembro de 2007

Vou logo dizendo que não é livro de fácil leitura. Teologia dogmática e Exegese bíblica, com o método histórico-crítico, entrelaçam-se no recente livro do Teólogo Joseph Ratzinger, hoje Papa Bento XVI: “Jesus de Nazaré”. Mas é excelente livro para todos os que crêem em Cristo. Para todos os que amam Jesus de Nazaré, sejam católicos ou cristãos de todas as confissões. É livro também para os judeus sinceros, que amam a Torah e para os muçulmanos, não amantes da violência.
Queira Deus possa o autor concluir o seu trabalho com a parte depois da Transfiguração e a primeira parte sobre a infância de Jesus. O livro começa no Batismo na água do rio Jordão e contém só 10 capítulos. No final da edição brasileira, à pag. 303, ele explica que “o livro pressupõe a exegese histórica-crítica e serve-se dos seus conhecimentos, mas quer ao mesmo tempo superar este método no sentido de uma autêntica interpretação teológica”. Daí, ser esta obra sumamente útil para todo aquele que tenha certa iniciação teológica, mesmo sem ser especialista e muitos menos conhecedor da pesquisa histórica-crítica, de cujo debate Ratzinger diz prescindir.

Sobre o conteúdo da mensagem de Jesus sobre o Reino de Deus, o autor começa dizendo que “o anúncio da soberania de Deus, como toda a mensagem de Jesus, radica no Antigo Testamento, que Ele lê como um todo desde Abraão até a sua hora e o qual conduz diretamente ao próprio Jesus. Parte dos salmos de entronização que proclamam o reino de Deus (YHWH), que é compreendido de modo cósmico-natural e que Israel acolhe no modo da adoração e lembra o Shemá Israel do capítulo 6º do Deuteronômio. “A soberania de Deus – diz ainda – o divino Ser, Senhor do mundo e da História, transcende o momento, transcende a história no seu todo e vai para além dela, conduz a história para além de si mesma.

O capítulo 4 do Sermão da Montanha detém-se numa reflexão profunda e admirável sob todos os aspectos das bem-aventuranças, que Ratzinger diz serem nova versão da Torah, que Jesus nos oferece em diálogo com Moisés e com as tradições de Israel. O Sermão da Montanha culmina – como não poderia ser de outro modo – no Pai Nosso com o qual Jesus quer ensinar os discípulos de todos os tempos a rezar, colocá-los diante do rosto de Deus e assim os conduzir pelo caminho da vida.
No estilo nitidamente germânico, o teólogo Ratzinger alia profundeza da análise à minuciosidade da pesquisa. Veja-se por exemplo no Capítulo “As grandes imagens de S. João” à pag. 209 da versão portuguesa sobre a água, a videira, o vinho e o pão. Sobre este último, ele parte do maná do deserto ao capítulo 6º do evangelho de João, com bela referência ao trigo que morre ao ser plantado e renasce na espiga, figura do Cristo morto e ressuscitado. Exemplo marcante das características ratzingerianas de profundidade e minuciosidade nós encontramos na reflexão sobre o Pastor, da pg. 236 à 246. Começa com a figura do pastor do antigo Oriente, no espaço babilônico, passa pelo profeta Ezequiel, para chegar ao mundo atual, com a distinção entre o verdadeiro pastor e o salteador, os ideólogos e os ditadores de hoje. Para esses, os homens são coisas que eles possuem. Para o verdadeiro pastor, os homens são livres para a verdade e o amor. O Logos, que se tornou homem em Jesus, é o Pastor de todos os homens pois que todos foram criados pela única Palavra. Conclui o capítulo: “Ele deu a sua vida por nós. Ele mesmo é a vida.”
É livro a ser lido e meditado.

(*) É arcebispo emérito de Maceió.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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