Mais uma celebração de Natal. Como cultivar a tradição religiosa sem fugir do significado da presença de Jesus Cristo, o Filho do Pai Eterno, que esteve fisicamente aqui na humanidade, em tudo igual a qualquer um de nós, menos no pecado.
Lembre que pecado, no sentido de Jesus, é não amar, ou só amar a si mesmo. A tradição do Natal cristão: o presépio, o Noite Feliz, o menino na manjedoura. Nada a ver com profanação do Papai Noel, o jingle bells e a árvore enfeitada com bolas coloridas e algodão. Tudo isto imposição da cultura européia, pelos missionários que aqui vieram e não se aculturaram e que infelizmente continua a ser cultivada até por igrejas cristãs. Pior ainda, a profanação consumista das compras de presentes, que não são para o aniversariante e sim para outras pessoas.
O significado maior do Natal é o aniversário, para nós cristãos, o mais importante aniversário, por ser da pessoa que trouxe à humanidade um caminho novo, que se levado a sério, transformará a humanidade numa convivência solidária, que para nós, cristãos é a construção do Reino de Deus, iniciado aqui em nosso tempo.
O aniversariante é Jesus, o filho de Maria de Nazaré, gerado pelo Espírito de Deus, tendo como padrasto um homem justo, José, o carpinteiro. Só tendo claro a compreensão da pessoa e da missão de Jesus em seus trinta e três anos de vida entre nós, só assim se pode viver e celebrar dignamente seu aniversário. Essa auto-definição dele está em Lucas 4.16-21, quando ele leu a livro do profeta Isaías na comunidade de Nazaré.
O menino apresentado na manjedoura cresceu, aprendeu a conhecer sua cultura, seu povo e a realidade cruel da desigualdade da sociedade da Palestina e a partir dela ele compreendeu que o mesmo acontecia no mundo todo.
Aos trinta anos, ele iniciou sua vida missionária, consciente de que não iria durar muito, já que seu projeto dividiria a sociedade, até famílias se dividiriam por causa de sua proposta. Ele radicalizou sua missão arriscando a vida e confirmando que amar o outro é o segredo da felicidade. Não há outro caminho, por isso ele se disse ser o caminho.
Ele não precisava ser Deus para saber que sua ousadia terminaria em processo e morte, como aconteceu de fato. A hipocrisia dos “donos” do mundo se incomoda com quem propõe o amar o próximo de verdade. Mas ele tinha clareza que da morte surge a vida nova, por isso, embora tremendo e pedindo ao Pai para afastar o cálice amargo do processo doloroso, ele enfrentou a morte e ressuscitou ao terceiro dia.
Daí, celebrar o Natal de verdade é confrontar-se cada um e cada uma que deseja ser feliz e não encontrou o caminho ainda. O aniversariante fica como um espelho que a gente ao olhar o presépio precisa ampliar o horizonte, chegar até a Cruz e ao terceiro dia após. O encontro do Natal deve ser pessoal de mim e de você, desarmado e de busca: Quem é Ele? O que fez, por que Ele atrai pessoas até hoje? O que espera Ele de mim e de você?
Nossa cidade, nosso bairro não é diferente de Jerusalém, ou de Belém de Judá. Hoje, como lá, o povo carece de sentir Jesus, o libertador. Como lá, aqui há pessoas sem rumo, pessoas carentes, pessoas na fossa, outras desesperadas, há os cínicos e os oportunistas. Como lá, hoje há muitas pessoas infelizes. E você e eu bem que podemos sair da contemplação do presépio e ser a presença de Jeus, o aniversariante para tantas pessoas.
Aliás, foi isso que Ele pediu aos seguidores no momento de seu retorno à casa do Pai: vão pelo mundo todo e dêem testemunho de mim, mostrando que um outro mundo é possível.
Você é eu, cantando ou não o Noite Feliz, olhando ou não o presépio, crendo ou não no mistério de Cristo podemos contribuir para o mundo, a cidade e o bairro, ou talvez sua própria casa ser diferente, mais humana e solidária. De qualquer forma, te desejo um Natal alegre, que já é um bom presente ao aniversariante.