Comentário/ editorial do padre Edilberto Sena no Jornal da Manhã (Rádio Rural AM)
Vai se chegando ao final do ano, querendo alimentar esperança para um novo, mas a realidade é cruel, mesmo que para o presidente da república pareça céu de brigadeiro, pois “nunca antes neste país…”.
Se há notícias positivas de pessoas generosas que procuram ser solidárias com outros, e entidades e organizações que batalham por justiça e bem comum, por outro lado, chegam notícias de assassinatos, guerras sem fim, empresas gerando lucros fabulosos à custa de trabalho mal pago e até escravo. O ano termina e a sociedade sofre mais mais um abalo na confiança das autoridades.
O congresso nacional é uma casa de oportunismos, compadrios,onde várioscongressistas estão com nomes sujos na corrupção e em processos judiciais intermináveis; o poder executivo se auto elogia por alguns bons feitos, como a bolsa família e a descoberta de mais um poço de petróleo, mas tanto um como o outro se cala quando os ricos ficam mais ricos e o bolsa família revela o auto grau de miséria em que vive grande parte da população; aliás, o presidente ainda elogia os empresários do etanol como heróis da nação, imagine!
E o judiciário? Esse também perde a cada dia a confiança da população. São casos de visível injustiça que não recebem julgamento, como os casos de políticos comprovadamente corruptos, mas que continuam altaneiros na vida pública; como o caso da transposição das águas do rio São Francisco que os juízes da mais alta corte deram sentença favorável, contra todos os argumentos e provas negativas de cientistas e pesquisadores. Os casos de julgamentos feitos por juízes uma vez, serem anulados por outros juízes se repetem, como nos processos do porto da Cargill em Santarém e os processos da superintendência do Incra no Oeste do Pará. Todos anulados, ou postergados em instâncias de Brasília.
E agora, mais um escândalo judicial, no Acre. O assassino do Chico Mendes (lider dos sweringueiros na defesa da floresta de Xapuri), o velho ambicioso Darly Alves foi novamente retirado do presídio, de onde já havia fugido, se escondido, preso novamente. Agora o juiz lhe dá uma prisão domiciliar. Isto é, fica em casa em sua fazenda, nos braços da esposa, dos filhos e netos, o homem que friamente, de tocaia assassinou o seringueiro Chico Mendes 19 anos atrás.
Como confiar em julgamentos de tantos juízes, uns contradizendo outros pares? Quem garante a justeza de seus julgamentos?
É verdade que ainda há alguns juízes que honram a função social e jurídica que assumiram. Errar é humano, mas quando os erros se repetem com tanta freqüência e sempre contra os mais fracos, não dá para se ter confiança e esperança de que as instituições estejam em processo de aperfeiçoamento. As leis são boas, embora sejam elásticas demais, as práticas de quem deveria cumprir as leis é que desanimam os que buscam justiça.