D. Edvaldo G. Amaral 20 de outubro de 2007

Após a leitura dos dois alentados volumes de Joachim C. Fest sobre Hitler, num total de mais de 1.300 páginas, nos quais o historiador alemão analisa com profundidade e minúcia todos os aspectos intrigantes da complexa personalidade de Adolph Hitler, permanece a pergunta que há décadas os estudiosos de história se fazem: “Por que?”
Por que o povo alemão, tão inteligente e culto, de tão apurado senso artístico e capacidade de realização, também militar, como pôde demonstrar no decorrer de sua história, desde as invasões germânicas até o Sacro Império Romano-Germânico, como é que esse povo se deixou levar por uma pessoa como Hitler, de limitada capacidade intelectual, sem preparo universitário, modesto soldado do final da 1ª Guerra Mundial, nascido fora da Alemanha? Como foi possível que toda uma nação, tão orgulhosa de seu passado, à frente a sua juventude, se deixasse conduzir por este homem, ávido de poder, com um sonho fantasioso de dominação universal e de criar um novo império mundial, para o qual, já imaginava a capital, Germânia, e para a qual, em seus delírios de megalomania, já desenhava palácios e praças?. Por que isso aconteceu?

Tudo indica que a verdadeira origem do fenômeno da prodigiosa ascensão do nacional-socialismo, colocando Adolph Hitler no ápice do poder, pode-se encontrar na revolta do povo alemão pelo Tratado de Versalhes. Os vencedores da 1ª Guerra, de 1914-18, ingleses, franceses, norte-americanos e outros, não tiveram magnanimidade nem grandeza de verdadeiros vencedores, nem mesmo a visão histórica do que poderia acontecer com um povo humilhado, esmagado e espoliado em seu território e sugado em sua economia por uma absurda dívida de guerra.

Versalhes explica Hitler. O obscuro soldado do fim da 1ª Guerra, que em sua juventude fora rejeitado do curso de arte da Universidade de Viena e passara a mocidade desenhando cartões postais dos monumentos da capital austríaca para vender aos turistas, tornou-se capaz de galvanizar em torno de sua pessoa, ávida de poder e grandeza, toda a revolta alemã pela humilhação, que lhe fora impingida pelos poderosos que assinaram o Tratado de Versalhes, melhor chamado de “ditado de Versalhes”.

Aí está o que me parece ser a verdadeira (e única) explicação do fenômeno Hitler, com seu triste cortejo de racismo anti-semita, com suas atrocidades e seus milhões de vítimas inocentes. O nobre povo alemão, vencido e humilhado, pela primeira guerra da história que envolvera grande número de nações de quase todos os continentes, viu em Hitler a única forma de reerguer-se e reaver o prestígio de sempre na história das nações.

(*) É arcebispo emérito de Maceió

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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