D. Edvaldo G. Amaral 22 de setembro de 2007

“Eu, Edith Stein, filha do falecido Siegfried Stein, comerciante de profissão e de sua esposa, Auguste Courant, nasci no dia 12 de outubro de 1891, na cidade de Breslávia. Sou prussiana e judia” – assim se apresenta aquela que na vida religiosa, no ocaso de sua atribulada existência, tomará o nome de Irmã Teresa Benedita da Cruz entrando no Carmelo de Colônia (Alemanha) em 14 de outubro de 1933. Entre essas duas datas, uma vida de estudos, de profunda intelectualidade pelos caminhos da filosofia fenomenologista de Edmundo Husserl, de angústia sobre a esperança de seu povo hebreu, de perseguição racista pelo nazismo de Hitler, e enfim, o caminho certo e sereno da segurança na fé católica, na esteira da espiritualidade beneditina e na radicalidade da opção de carmelita descalça.

Em 1913, após profundos estudos de psicologia, torna-se assessora de Husserl, o pai da fenomenologia. Nesta altura, assim definiu sua vida: filosofia como estrada de vida, ateísmo como posição religiosa e idealismo ético como compromisso com a humanidade inteira. “Estamos no mundo para servir à humanidade” – dizia neste período de sua vida. Laureada em filosofia em 1915, pede para ser voluntária da Cruz Vermelha. Sua mãe desaprova, ela vai sem seu consentimento.

Opondo-se ao idealismo crítico de Kant, a fenomenologia crê na existência da verdade, intrínseca ao ser. Nessa escola, Edith Stein formou-se numa honestidade intelectual a toda prova e uma capacidade de análise, que lhe permitia penetrar nos fenômenos (como chamam os filósofos), “sem preconceitos” como gostava de dizer.

Em 1916, ano de seu doutorado em filosofia, encontra uma pobre senhora rezando sozinha na catedral de Frankfurt. A descoberta de um Deus, com o qual ter um relacionamento pessoal, a impressiona, habituada às orações em comum na sinagoga. A serenidade de uma cristã neoconvertida, diante da morte do marido, chocou-a profundamente. Disse depois que “ela tinha um rosto marcado pela dor e transfigurado por uma luz misteriosa”. Afinal, no verão de 1921, hóspede de um casal amigo, sozinha em casa, passou a noite lendo a Autobiografia de Santa Teresa de Ávila. Ao amanhecer, concluiu com a exclamação que mudou sua existência: “ESTA É A VERDADE!” Finalmente encontrara a VERDADE, que procurara tanto na filosofia. Na manhã seguinte, compra um missal e um catecismo. A 1º de janeiro de 1922, recebe o Batismo e a Eucaristia. Sua vida agora se resume no ensino e em dar conferências em várias cidades da Europa. Discípula ardente de Santo Tomás, a abadia beneditina de Beuron torna-se seu lugar predileto de meditação e retiro na Semana Santa. O abade Rafael Walzer é seu conselheiro espiritual. Formada na escola beneditina, em 1933, entra no Carmelo, tomando o nome de Irmã Teresa Benedita da Cruz. Continua filha de Israel e pode repetir com orgulho a expressão paulina :” São judeus? Eu também!” (2Cor 11 22)

A partir daí, vive profundamente sua vida de contemplativa, sofrendo com seu povo a perseguição nazista. As Superioras, temerosas pela sua segurança com a ascensão de Hitler ao poder em 1938, enviam-na para o Carmelo de Echt na Holanda. Foi aí que escreveu sua obra principal “Scientia Crucis” ( A ciência da Cruz) não concluída, porque a 2 de agosto de 1942 é presa pelos nazistas e deportada para Auschwitz . A 7 de agosto, consuma seu martírio na morte por asfixia de gás, após haver escrito:

“Uma ciência da Cruz só se pode adquirir quando se sente todo o peso da Cruz. Estou convencida disso desde o primeiro momento, e por isso, disse: “Ave, ó Cruz, única esperança!”

(*) Arcebispo Emérito de Maceió

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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