Voltando de uma viagem a Portugal, país onde me sinto à vontade por ter vivido em Lisboa durante dois anos, recordo alguns momentos agradáveis vividos com minha irmã Suely Telma e os amigos Joaquina Ventura e Germano Candeias, que nos hospedaram.
No Terreiro do Paço, local central à beira do Tejo, lembrei-me do Terreiro de Jesus, talvez o único lugar no mundo onde o pátio da Sé- Catedral tem esse nome. Terreiro, em Portugal, tem uma evocação do campo, pátio limpo em frente das casas principais das fazendas, largo ou praça dentro de uma povoação e até adro de uma igreja.Lá o local significou presença real, pois D. Manuel, O Venturoso, saindo do Castelo S. Jorge, veio habitar nesse local, que abrigou a corte com toda a sua burocracia. Hoje o local sedia parte dos ministérios e secretarias públicas. Aqui o nosso Terreiro evoca a presença dos negros escravizados, que mesmo nessa condição, deixaram sua marca indelével na construção da nacionalidade, da configuração brasileira.

Com os amigos descemos até ao Algarve.Lá passamos a noite de S. João. De outra forma, esse ciclo junino ainda é celebrado naquele país. Em Quarteira, que fica a 20 km de Faro, houve um S. João com desfiles típicos, com belas fantasias e música própria da época – são as famosas Marchas Populares. São grupos caracterizados com roupas típicas, ao som de belas marchas, que movimentaram aquela noite joanina.Havia representantes de Ruas, como a do Outeiro, a da Cabine, de Vilamoura, de Gago Coutinho, das Florinhas de Quarteira. Havia muitos turistas, o que é próprio do Algarve nessa época, e assim matamos a saudade das nossas festas juninas com aquela bela apresentação. De lá fomos a Faro, capital da região e visitamos a cidade histórica. O acesso é feito pela bela porta chamada Arco da Vila. São restos de muralha moura, porta que já sofreu várias intervenções através dos séculos. Sobre essas portas medievais foi construído, sob o risco do arquiteto italiano Francisco Xavier Fabri, um portal inaugurado em 1812. A porta dá acesso à cidade antiga onde se encontra a Sé Catedral, mandada construir em 1251 pelo arcebispo de Braga D.João Viegas. De lá ainda visitamos Lagos, com sua bela igreja de St° Antônio e também Sagres, célebre pela escola de navegação do Infante D. Henrique. Como estávamos na fronteira da Espanha, visitamos Lepe, província de Huelvas, onde mora o filho do casal que nos conduzia.É uma pequena e completa cidade. A igreja matriz é dedicada a Nossa Senhora, invocada como “A Bela”. Daí, muitas casas na praia terem o costume de apresentarem invocações a Maria na sua entrada. Ainda no Algarve, pude descobrir um parque chamado Mundo de Areia : são esculturas em areia, representando figuras e cenários do mundo inteiro – até o Cristo Redentor está presente. Lá eles querem que o passado e o presente se fundam num hino à humanidade.É considerada a maior cidade de areia do mundo, com 15.000 m2 de areia, 30.000 toneladas de areia esculpida por quarenta escultores, tendo alguns representantes do Brasil.

Indo a Portugal, independente do número de viagens, Fátima representa um ponto de chegada. Lá, além das costumeiras visitas à gruta e à igreja, também encontrei como novidade um museu de cera narrando a vida de Cristo. São 33 cenas relacionadas com a vida de Jesus, do nascimento à ressurreição e já tem até um site : www.vidadecristo.pt. De lá fomos ao mosteiro do Lorvão, que fica nas cercanias de Coimbra, e onde , desde o século XIII se cultua a Boa Morte de Maria – a Irmandade só surgiu posteriormente, no início do século XVII – mas esse tema será objeto de um outro artigo.

Em Lisboa, há no Centro Cultural de Belém, uma exposição de arte moderna e contemporânea, parte da coleção privada do famoso empresário Berardo.Essa coleção quis oferecer uma visão global do panorama da criação nas artes plásticas do século XX e início do XXI, em especial na arte européia e americana – o acesso à exposição é gratuito.

Através da profª Consuelo Pondé de Sena, conheci em Salvador a profª Dulce Matos. Ela dirige em Lisboa uma entidade cultural intitulada “Cais de Cultura”. Naquela ocasião o grupo comemorava 12 anos de existência. O patrono é o famoso prof. Agostinho da Silva (1906-1994). O ilustre professor teve estreitos laços com o Brasil.Em 1944 chega ao Rio de Janeiro e em 1947 se fixa definitivamente no Brasil. Em 1952 integra o corpo docente da Universidade da Paraíba e de Pernambuco. Na década de 50 atua no 4° centenário da cidade de S. Paulo. Em 1955 participa da fundação da universidade de Stª Catarina. Também participa da fundação do CEAO, na Bahia em 1959. Em 1962 colabora na universidade de Brasília e com o Centro de Estudos Portugueses. A partir de 1964 fixa moradia entre Cachoeira e Salvador. Com o golpe militar brasileiro, ele, avesso a ditaduras, regressa a Portugal. A tertúlia promovida naquela noite, foi um momento rico, com poesias, dança, e pude até dar uma palavra sobre a minha pesquisa relacionada com a Boa Morte- naturalmente que, no meio da sessão, houve uma típica mesa portuguesa, com todos os sabores que compõem aquela rica culinária.

Prof. de Antropologia da Uneb, da Faculdade 2 de Julho, da Cairu. Membro da Academia Mater Salvatoris e do IGHB. Colabora nas Paróquias da Vitória e de S. Pedro. 

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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