O presente artigo propõe-se a analisar, tão-somente sob uma perspectiva bíblica, o homossexualismo. Nossa investigação analítica será específica e pontual, porque não queremos aqui proceder a uma análise generalista que envolva argumentos médicos, psicológicos, filosóficos ou mesmo jurídicos, isso para não incorrermos no erro metodológico de se tentar justificar ou mesmo comprovar uma tese com base em argumentos que, em princípio, não se coadunam entre si. As questões, única e precipuamente, a que pretendemos responder são: 1) O que a Bíblia nos diz a respeito dos comportamentos homossexuais? 2) É possível fundamentar e legitimar tais práticas nos preceitos da Palavra de Deus?

Para tentarmos responder a essas indagações, que constituem o objeto-problema da nossa análise, partiremos de algumas premissas que são fundamentais para a compreensão do texto bíblico como revelação da Verdade de Deus para os homens. A partir disso, procederemos a nossa investigação, analisando as citações veterotestamentárias e neotestamentárias. Por fim, afirmaremos, com base nos argumentos apresentados, a tese Bíblica sobre o homossexualismo.
Ademais, o pano de fundo que nos leva a pensar e escrever sobre a temática é exatamente o contexto social em que vivemos no qual observamos uma forte tendência da mídia em propagar as práticas homossexuais como se fossem comportamentos naturais do ser humano (para isso, é só nos lembramos das últimas novelas da Rede Globo). Mais que isso a tendência de alguns pseudo-teólogos de tentar infundir no (in)consciente coletivo que tais condutas encontram respaldo nos ensinamentos do cristianismo. Se é legítimo ou legal que os cristãos condenem as práticas homossexuais isso é uma outra discussão. Agora, afirmar que há espaço no texto Bíblico para se defender o homossexualismo isso é um “nonsense”, um devaneio, uma heresia, conforme se verá.

Esta análise, em momento algum, pretende desabonar os homossexuais enquanto pessoas humanas. Até porque, um dos principais postulados da doutrina cristã é o que nos ensina que não devemos fazer acepção de pessoas, seja por condição social, racial, cultural, étnica ou econômica. Do mesmo modo, um outro postulado essencial do cristianismo é o que nos ensina que a nossa luta não é contra o ser humano no plano material, mas sim, no plano espiritual, contra as legiões, potestades e principados malignos. Em conseqüência disso, categoricamente, os princípios cristãos não são homofóbicos. Deus não rejeita o pecador, ao contrário, ama o pecador, mas abomina o pecado. Na Bíblia, o pecado (no grego, hamartia), significa “errar o alvo”. Deus tem um propósito para toda a criação, um plano, um alvo a ser atingido. O pecado faz separação entre o ser humano e Deus, porque fere a Sua Santidade – no caso das relações sexuais ilícitas -, e uma afronta à Sua Autoridade. Sabemos que este assunto é bastante polêmico e controverso, mas a Palavra de Deus nos dá toda a orientação de que precisamos a este respeito. A proposta é, tão-somente, olhar para o homossexualismo sob uma perspectiva bíblica, através de passagens do Antigo Testamento e do Novo Testamento.

As premissas bíblicas:

Preliminarmente, devemos partir do princípio que Deus existe e a Bíblia é a Sua Palavra revelada aos homens. Tais premissas são fundamentadas e provadas em vários trechos bíblicos, como por exemplo:

1) “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.” (2 Timóteo 3:16-17)

2) “Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir a alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração.” (Hebreus 4:12)

3) “Porque nunca jamais qualquer profecia foi dada por vontade humana; entretanto, homens [santos] falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo.” (2 Pedro 1:21)

4) “Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna, e são elas mesmas que testificam de mim.” (João 5:39)

Os cristãos ortodoxos – isto é, aqueles que crêem que a Palavra de Deus, revelada na Bíblia, está acima de qualquer filosofia ou ciência – a adotam como única regra de fé e prática, sendo o norteador de seu comportamento e suas verdades eternas servem como alicerce para sua compreensão de mundo. Entendem que, através dela, Deus se dá a conhecer, não apenas através de sua criação e obras, mas também através do Seu caráter santo e imutável. Infelizmente, devido à pós-modernidade que penetrou, também, na Igreja Cristã, as Escrituras vêm sendo distorcidas, através de uma hermenêutica equivocada, a fim de que seus anseios e experiências pessoais sejam autenticados pela Palavra. Isso faz com que ela seja, muitas vezes, descaracterizada, pois toda ela é teocêntrica, porém, tem-se tornado, no mais das vezes, antropocêntrica. A cruz não é mais tão importante. O pecado é considerado como algo “relativo”, a fim de que as más obras não sejam argüidas. Os fins justificam os meios. Este é o evangelho mercadejado, diluído com água, tornando-se fraco e inoperante (II Cor. 2:17).

É exatamente por isso que alguns pseudo-teólogos tem tentado divulgar idéias sofismáticas de que as práticas homossexuais se coadunam e podem ser justificadas e aceitas pelo texto bíblico. Por exemplo, o fato de Jesus Cristo, nos seus ensinamentos, não ter, em discurso direto, enfrentado a questão, isso não significa, conforme veremos, que Ele concordava ou concordaria com as práticas homossexuais. Tanto é assim que Ele cita em Marcos 10:7-8 a passagem de Gênesis que é contudente e atestatória da união heterossexual e monogâmica e não homossexual e poligâmica.
Enfim, a análise a que procederemos a partir deste momento nos levar a afirmar, conclusivamente, que as práticas homossexuais não podem, em hipótese algum, ser fundamentadas no texto bíblico.
Vejamos, então, o que nos dizem as passagens vetero e neotestamentárias.

1) No Antigo Testamento:

1.1) O Plano Original de Deus (Gênesis 1.27,28a; Gênesis 2.18,24).

“Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a” (Gênesis 1.27, 28a).

“Disse mais o Senhor Deus: não é bom que o homem esteja só: far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea (…) Por isso deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne”. (Gênesis 2.18,24).

Estes dois textos no mostram, claramente, qual o propósito de Deus ao criar homem e mulher: que formassem uma nova família, através do casamento heterossexual monogâmico e se multiplicassem. Se assim não fora, poderia ter criado dois homens ou duas mulheres. Mas criou o casal, compatíveis biologicamente, onde ambos se completam de forma perfeita. Este é o padrão de Deus para um relacionamento íntimo e sexual. Todo ato que foge a esta ordenança natural, contrária ao padrão que Deus determinou desde a fundação do mundo, é considerada perversão. É importante ressaltar que não só o homossexualismo é abominável aos olhos de Deus, mas também todo e qualquer tipo de relação sexual ilícita (inclusive, entre heterossexuais): adultério, zoofilia, encesto, etc.

1.2) A perversão de Sodoma e Gomorra e suas conseqüências (Gênesis 19).

“Mas, antes que se deitassem, os homens daquela cidade cercaram a casa, os homens de Sodoma, assim os moços como os velhos, sim, todo o povo de todos os lados; e chamaram Ló e disseram: Onde estão os homens que, à noitinha, entraram em tua casa? Traze-os fora a nós para que abusemos deles” (Gênesis 19.4,5).

A Bíblia relata, neste texto, o caos moral em que estava esta cidade (Sodoma). Era tamanha que quiseram invadir a casa de Ló para abusar dos homens que tinham visto entrar, chegando até mesmo a recusar as duas filhas virgens do anfitrião (vs 6-8). Como se não bastasse, ainda ameaçaram a Ló de fazer com ele coisas piores (vs. 9). Eles não conseguiram realizar seus desejos e os anjos os deixaram cegos (vs 11). A prática estava tão arraigada naquele lugar, que o termo “sodomita” é sinônimo de homossexualismo. Por causa disso tudo, veio a ira de Deus sobre a cidade e foi toda ela exterminada, conforme nos relata a continuação do texto bíblico.

1.3) O homossexualismo e a Lei Mosaica (Levítico 18.22,24-25; Levítico 20.13).

“Com homem não te deitarás, como se fosse mulher; é abominação. (…) Com nenhuma destas coisas vos contaminareis, porque com todas estas coisas se contaminaram as nações que eu lanço de diante de vós. E a terra se contaminou; e eu visitei nela a sua iniqüidade, e ela vomitou os seus moradores.” (Levítico 18.22,24-25)

“Se também um homem se deitar com outro homem, como se fosse mulher, ambos praticaram coisa abominável; serão mortos; o seu sangue cairá sobre eles” (Levítico 20.13)

Segundo a Lei mosaica, dada diretamente por Deus a fim de ser uma norma de conduta para Israel, povo que acabara de libertar do Egito, sentenciava a prática homossexual com a pena de morte por apedrejamento. Esta prática era definida como “abominação”. No texto original, esta palavra – abominação (Toevah) – significa “repugnância”, “algo que causa náusea”. Assim sendo, é como se Deus, ao olhar para tal prática, ficasse repugnado, ou com ânsia de vômito. Por isso, no versículo 25 do capítulo 18 de Levítico, ele diz “a terra vomitou os seus moradores”. Isso se deve por tal comportamento perverter o curso natural dos relacionamentos sexuais. É visto como pecado, além de outros fatores, pelo fato de que é tido apenas como concupiscência da carne e não possui nenhuma finalidade de procriação. No reinado de Asa e Josias, conforme relatado nos textos de 1Reis 15.12 e 2 Reis 23.7, através da reforma religiosa feita por estes reis, a pena para a sodomia não era a de apedrejamento, mas eram expulsos da nação de Israel. Isso mostra que o Senhor é Deus de Justiça e também de misericórdia.

2) No Novo Testamento:

2.1) A visão de Paulo sobre homossexualismo:

2.1.1) Romanos 1. 24-27

“Por isso Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem seus corpos entre si; pois mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém. Por causa disso, os entregou Deus às paixões infames; porque até as mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza; semelhantemente, os homens também, deixando o contacto natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição pelo seu erro.”

O apóstolo Paulo refere-se a tais práticas como imundícia, concupiscências, mentira, idolatria, paixões infames, ato contrário à natureza, inflamação mútua, sensualidade e torpeza. Se nos reportarmos ao Antigo Testamento, onde a palavra “abominação” significava “repugnância”, entenderemos o porquê dele se referir aqui na carta aos Romanos como imundícia. Concupiscência é um desejo intenso de prazer e bens materiais. Mas, de tudo isso, queremos enfatizar os versículos 25 e 26 “adorando e servindo em lugar do Criador (…) por causa disso Deus os entregou às paixões infames…”, onde está caracterizado como resultado de idolatria. “Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor. Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de toda a tua força.” (Deuteronômio 6.4-5). Este é mandamento do Senhor, que Ele seja o objeto do nosso amor, dedicação e respeito. Certamente a idolatria é algo abominável aos olhos de Deus, seja em qualquer área da vida humana.

2.1.2) 1 Coríntios 6.9-11.

“Ou não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Nem vos enganeis: nem impuros, nem idólatras, nem adúlteros, nem efeminados, nem sodomitas, nem ladrões, nem avarentos, nem bêbados, nem maldizentes, nem roubadores entrarão no reino de Deus.”

Aqui neste texto, Paulo fala sobre os mais diversos tipos de pecados, reforçando a idéia de que o pecado faz separação entre o homem e Deus. Não importa qual seja o pecado. Desde o maldizente até o idólatra. Ele utiliza dois vocábulos gregos para homossexuais: malakós (macio; mole), refere-se aos “efeminados”, ou seja, aos homossexuais passivos. Para os homossexuais ativos, os “sodomitas”, emprega a palavra arsenokoites (homem que tem coito com outro). Então ele diz que todos os pecados relacionados, como também os homossexuais passivos (efeminados) e ativos (sodomitas) não herdarão o reino de Deus. Lembremo-nos, ao usarmos o termo “sodomita”, do que já lemos na passagem da destruição de Sodoma. Vê-se, aqui, que não há distinção alguma entre o que rouba e o que pratica atos homossexuais. Não se trata de homofobia, mas, inspirado por Deus, o apóstolo enumera as várias práticas que entristecem o coração de Deus e nos afasta de Sua presença.

Conclusão:

“Sabemos que a lei é boa, se alguém dela se utiliza de modo legítimo, tendo em vista que não se promulga a lei para quem é justo, mas para transgressores e rebeldes, irreverentes e pecadores, ímpios e profanos, parricidas e matricidas, homicidas, impuros, sodomitas, raptores de homens, mentirosos, perjuros e para tudo o que se opões à sã doutrina,” (1 Timóteo 1.9-10)

O apóstolo Paulo envia sua primeira carta a Timóteo, seu filho na fé, que estava pastoreando na cidade de Éfeso. Esta cidade era muito rica e também idólatra. Muitos praticavam imoralidades e detestáveis idolatrias à deusa Diana, a “Diana dos Efésios”. Pois bem, aqui ele enumera os vários tipos de pecados, como havia feito na carta aos Coríntios, mas ele não se colocou na posição de juiz. Pelo contrário, nos versículos seguintes, fala sobre sua condição antes de conhecer a Jesus. Segundo ele mesmo se definiu: “Sou grato para com aquele que me fortaleceu, Cristo Jesus, nosso Senhor, que me considerou fiel, designando-me para o ministério, a mim, que, noutro tempo era blasfemo, e perseguidor, e insolente. Mas obtive misericórdia, pois o fiz na ignorância, na incredulidade. Transbordou, porém, a graça de nosso Senhor com a fé e o amor em Cristo Jesus. Fiel é a palavra e digna de toda aceitação: que Jesus Cristo veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal. Mas, por esta mesma razão, me foi concedida misericórdia, para que, em mim, o principal, evidenciasse Jesus Cristo a sua completa longanimidade, e servisse eu de modelo a tantos quantos hão de crer nele para a vida eterna.” (1 Timóteo 1.12-16). Paulo não esconde suas falhas, mas deixa aqui registrado que confia na misericórdia do Senhor, no transbordar da graça, fé e amor que encontrou em Cristo Jesus. Reconhece que está no ministério porque o Senhor o considerou fiel. Diz ser o principal dentre todos os pecadores. Se tivéssemos sempre isso em nossos corações, seríamos menos soberbos e entenderíamos que se não fosse a graça, a longanimidade e a misericórdia de Deus em nossas vidas, há muito já teríamos perecido. Portanto, como dissemos no início do artigo, o nosso objetivo não é ofender os homossexuais, mas sim nos levar a refletir acerca dos ensinamentos bíblicos – de Deus – sobre este assunto tão atual. Enxergar que o Senhor nos ama e quer ter comunhão conosco. Ele “nos ama de tal maneira que deu Seu filho unigênito, para todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16). Nada que este mundo oferece pode ser mais importante e valioso do que o amor que Cristo tem por nós. Esse é o tema central da Bíblia: Jesus, o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Que Ele tenha a primazia em todas as coisas, e que possamos abrir mão dos desejos que são contrários à sua Palavra, a fim de que tenhamos plena comunhão com Ele, que é o Autor da Vida.
Destarte, através de uma leitura bíblica desprovida de interesses pessoais e conceitos humanos pré-estabelecidos, podemos verificar que o homossexualismo é abominação aos olhos de Deus, pois o seu propósito ao criar homem e mulher à sua imagem e semelhança é que ambos se unam através do casamento heterossexual e monogâmico, tornando-se uma só carne. Também vimos que o homossexualismo é resultado de idolatria, pois, amando mais à criatura ao invés do Criador, os homens transmudam a sua natureza e se deixam inflamar por sua sensualidade e desejos meramente carnais, já que não visam à procriação, que é uma ordenança do Senhor, recebendo, assim, a punição do seu erro.

Esta é a visão bíblica sobre o homossexualismo. E nós cristãos, como adotamos as Escrituras como nossa regra de fé e prática e não confiamos em nossa sabedoria, tentamos entender o que ela fala acerca deste assunto. Além disso, a Palavra de Deus também nos garante que é possível, sim, uma mudança de vida, através de uma conversão genuína, confissão de pecados e arrependimento, entregando o coração a Jesus Cristo. Só Ele é capaz de nos transformar e fazer prevalecer a Sua vontade e nos dar uma vida abundante. Abundância de paz, fé, alegria e amor não circunstanciais, mas que transcendem o nosso conhecimento humano. Esta é a proposta de Cristo para as nossas vidas.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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