Conversando com Pe. Sadoc sobre o mês de maio, que é consagrado a essa devoção popular tão bonita em louvor de Maria a Mãe de Cristo, ele deixou escapar essa bela e poética frase :”Maria gosta das flores que a gente leva para ela”Ele me contou que quando foi ordenado padre, em 1941, o mês de maio era celebrado com muito fervor e as celebrações tinham até uma certa teatralização, com muitos anjos, arranjos de flores, cânticos especiais. Esse tempo ele viveu intensamente. Mas com o Concílio Vaticano II, que quis purificar a Igreja renovando a sua estrutura e a própria linguagem, houve uma perda de valores das expressões daquilo que se pode chamar de “catolicismo popular”. Hoje essa dimensão está sendo retomada. O mês de maio foi um dos pontos mais atingidos. Tanto que quando Pe. Sadoc tomou posse na Paróquia da Vitória ( há 35 anos atrás), o primeiro mês de maio teve a participação de apenas 5 pessoas. Ele diz que tem o santo orgulho de ter renovado e reimplantado essa devoção na Paróquia e que, logo, se tornou modelar para as outras paróquias em Salvador.Sábado passado, participando da missa de aniversário do Pe. Luis Simões, vi que essa devoção retomou todo o seu esplendor: a ladainha foi muito bem cantada, a participação dos fiéis foi além do esperado e houve até bênção do Santíssimo Sacramento.

A devoção à Mãe de Deus (título que foi aprovado no Concílio de Éfeso, em 431) vem dos primórdios do cristianismo. Em escavações arqueológicas feitas em Nazaré, foram descobertas inscrições nas paredes da gruta em que se acredita que era a casa da Sagrada Família. E numa das paredes há um grafite do século IV que diz: “Viemos a este lugar rezar pois é a casa de M” – os estudiosos querem ver nesse “M”, exatamente, uma abreviatura do nome de Maria.

De fato, nos evangelhos ela fala muito pouco, mas o que diz é um paradigma para a vida dos cristãos – em Caná ela diz :”Fazei tudo o que Ele vos disser”. Também dela se fala muito pouco, mesmo em Lucas que é considerado o evangelista da infância e que mais fala de Maria – mas mesmo assim, essas falas são reveladoras de sua missão . Na anunciação do Anjo ela é chamada de “Ave Maria , a cheia de graça” e na visita que fez à sua prima Isabel, a mãe de João Batista, é chamada de ” a bendita entre todas as mulheres”. Ela tem consciência de sua missão de ficar sempre junto do seu Filho, e também assumiu a “espada de dor “, anunciada por Simeão na apresentação de Jesus no templo. Por isso, ela vai até o Calvário, o momento final de Cristo na sua dor terrena, e lá ainda recebe dEle a missão definitiva de ser a Mãe de todos os homens e mulheres, todos simbolizados na figura do jovem apóstolo João :”Mãe, eis o teu filho, filho , eis tua mãe”.

O jornal da Paróquia de S. Pedro, intitulado “Folha de S. Pedro” traz um belo artigo do Pe. Aderbal sob o título “Maria , a Mãe Missionária”. Lá é destacada essa “pressa” de Maria, após o anúncio do Anjo, em correr para as montanha afim de servir a sua prima Isabel. Esse gesto é símbolo de sua presença evangelizadora ¿ essa é uma das dimensões mais importantes de sua vocação. O jornal ainda lembra que estamos no ano missionário- o mês de maio quer aprofundar o testemunho da Mãe de Cristo, em nosso contexto do século XXI. Ela testemunhou e anunciou , no serviço, a sua vocação de anunciadora da Boa Nova: o Redentor, o Messias prometido vem. ” As notícias correm em velocidade supersônica, diz o jornal.Tanto se comunica o bem, quanto se propaga o mal. Parece até que o mal suscita mais interesse porque vem com uma encadernação mais vistosa e sensacionalista. O que vemos e escutamos pela mídia? São cenas desagradáveis de miséria, corrupção generalizada. Pouco se fala dos que fazem o bem, dos que lutam por justiça e dão a vida pela civilização do amor.É urgente apressar a comunicação de Boa Nova. Os homens têm sede de novidades e, sedentos, andam atrás delas. É necessário atendermos a tal prazer humano, dando-lhes o pão dos bons testemunhos e o vinho da verdadeira alegria”.

Esse mês de maio está sendo particularmente enriquecido com a presença do Papa Bento XVI que vem ao Brasil pela primeira vez na ocasião da V Conferência Latino-americana e do Caribe.De 13 a 31 de maio, em Aparecida , que é o nosso Santuário Nacional. Lá estarão reunidos 160 membros com direito a voto, alem de representantes dos Conselhos da Conferências Episcopais da Europa,África e Ásia. Também será importante a presença de observadores de outras confissões cristãs. O grande propósito dessa V Conferência , é que nesse 3º milênio se reflita sobre a vida e a missão da Igreja nessa região onde estão concentrados cerca de 50% dos católicos de todo o mundo. Essa reflexão será pontuda sobre os aspectos mais gritantes da nossa sociedade. Onde a Igreja está inserida, tudo visto como desafio à missão dela nessa parte do mundo. Daí surgirão as grandes linhas , as orientações e ações a serem priorizadas e seguidas nos próximos anos na ação evangelizadora da Igreja. O grande tema norteador é :”Discípulos e missionários de Jesus Cristo para que nEle nossos povos tenham vida”.

Dessa Conferência se espera um vivo ardor missionário, a partir de uma renovada consciência sobre o precioso dom do Evangelho e que tenha uma grande repercussão na vida e na cultura dos nossos povos.
Todos pedimos que Maria, como Estrela da Evangelização, seja um motivo inspirador de tão importante momento para a Igreja.

P.S. – No dia 26/05 será lançado no Salão Paroquial da Vitória o livro “Rosas para a Mãe de Deus”de Ana Rosa Greenhalgh, membro da Academia Mater Salvatoris.

Professor da Uneb, da Faculdade 2 de Julho, da Cairu. Membro do IGHB e da Academia Mater Salvatoris. Colabora nas Paróquias da Vitória e de S. Pedro. 

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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