Sem forças aguardava a vistoria em seu corpo golpeado e violentado…
E o verbo se fazia na carne que sofria as dores de ser rejeitado,
entre tantos corpos anônimos repousava inerte na vala comum…
Dignidade estraçalhada, alma sonolenta…
Nobreza desprezada, vida sedenta,
olhos embebidos de sangue e suor…
Na sentença injusta o poder e a vaidade ostentando disfarçados discursos de solidariedade…
Na presença breve o dizer e a vontade suportando estilaços, decisões em falsidade,
sentenciado por falar a verdade que liberta.
Na cruz carregada a luta em prosseguir…
Na luz apagada um calvário a subir,
a cada passo vencendo a peso da dor, a decrepitude da humanidade,
árvore plantada para vegetar,
árvore enraizada para superar,
talhada na raiz com cortes profundos para florescer,
sem temer a esperança que não permite o desespero consumir o mundo…
seguindo sua sina sem teto, sem refúgio, resignado e mudo,
mundo a ele consagrado para salvar.
…
Condenados vagamos atônitos e caídos, mas não derrotados…
No exemplo Daquele que soube suportar o peso de nossos pecados…
consumidos, mas não completamente aniquilados.
Sangrando, antecipamos transformações,
extraindo a essência pura de nossos corações,
sentimentos amargos,
reconhecimentos reais,
lábios sedentos de justiça…
à àrvore da vida submissa…
Impomos a força da vida que vence a morte.
Consolamo-nos mutuamente as nossas revoltas e soluços silenciosos
de abandono, de incompreensão do mistério da injustiça e da dor
diante do estigma da cruz.
Na impotência de ser o grito silencioso impregnado no olhar desfalecido,
Na importância de ter o orgulho ferido, próprio universo estarrecido,
na face escarnecida, no corpo moribundo,
força fragilizada em um soluço amoroso…
fé contrariada entre o martírio e a paixão…
Buscas no olhar e nas lágrimas da mãe o consolo dos aflitos.
Atormentados espalhamos nostalgia, mas não violência,
Torturados violentamos a melancolia, sem clemência
denúncias (com)provadas,
renúncias (con)denadas,
coração na ousadia liberta…
razão na estesia desperta…
abraços de paz e fraternidade,
revigoramos as forças para o sacrifício final.
Não tememos quem pode tirar a vida do corpo,
mas sim quem pode dizimar a alma.
No gesto invisível a transitoriedade do tempo emudecido,
No ato palpável a eternidade do espaço concretizado,
sonhos aprisionados, descoloridos,
vidas mantidas em alamedas encardidas,
fome na escuridão dos viadutos,
úlceras na alma de seres astutos,
lama no corpo desgarrado,
lama no cerne capturado…
farrapos humanos translocados da periferia ao centro…
Prostrados e humilhados estendemos as mãos,
àquele cujas mãos estão imobilizadas na cruz
e ofegante está entregando o espírito ao seu pai,
opção reforçada entrelaçada a riscos,
busca do que estava perdido para salvar… ( Lc 19,10)
Caídos mas não vencidos, pois as mãos que nos
são estendidas, nos ajudam a levantar, nos acolhem
e continuamos a caminhada…
Oprimidos não nos rendemos às ameaças…
Sempre existe o exemplo Daquele que a tudo suportou,
cumprindo sua missão e junto hoje, ao lado do Pai
declara-se Nosso Irmão.
Não calamos a voz,
não nos amedrontamos com a covardia e a impunidade
dos criminosos deste mundo;
acreditamos na justiça divina
que derruba os poderosos e eleva os humilhados.
Aumenta Senhor a nossa fé!
fé na vida que supera a morte,
fé na força dos pobres e oprimidos,
fé no Teu poder libertador,
fé no domingo da Ressurreição.
Crucificados e expostos às tentações testemunhamos o nosso compromisso,
aprendizagem de servir e perdoar…
Usa-nos Senhor, para que sejamos a Tua Voz, as Tuas Mãos
e possamos ser em Ti complemento daqueles que precisam de nós.
Expulsos soluçamos na difamação,
queremos justiça, mas só conhecemos a condenação
e permanecemos durante a noite fria da exclusão no
vazio a pulsar em veias suadas…
Redimidos somos a continuação,
e a realização da Tua Vontade…
“Tudo está consumado!” (Jo 19,30)
Tudo foi entregue:
a fé,
a esperança,
a capacidade de amar.
Em teu sofrimento, estamos fortalecidos.
Tua morte não encerra a missão de instaurarmos um mundo desvinculado de opressões,
trevas, preconceitos, fanatismos,
presença (re)construída da eternidade,
Plenitude-Ressurreição!…
Tua morte faz parte do mistério de compreendermos que também somos divinos.
22.02.2007 – (resomar)
Maria Inês Simões (Bauru/SP)
(LugCosta – 20.03.2007 – Carpina/PE)