Arcebispo emérito de Maceió.

O Bollettino Salesiano de outubro deste ano revela, afinal, curioso segredo da biografia do Servo de Deus João Paulo II. Considero um traço característico da simplicidade, espontaneidade e humanismo do Papa Wojtyła. João Paulo tinha plena consciência – e viveu-a profundamente – que antes de papa, ele era um ser humano, dotado de alta sensibilidade pela beleza da natureza e, apesar de Pontífice, com direito a desfrutar as coisas boas e belas da vida humana.

O fato é assim narrado pelo Pe. Inspetor, Pe. Mário Prina, na revista internacional da Família Salesiana (Ano 130, nº 20): “Era o dia 5 de julho de 1985. Na casa salesiana de verão em Canneto – Parque Nacional do Abruzzo, apresentam-se o secretário particular do Papa, Mons. Estanislau Dziwisz e Camilo Cibin, da segurança vaticana. No dia 10, às 14;30, um pequeno helicóptero desce no campo de futebol anexo à casa. Dele desembarca o papa, em absoluto sigilo. Logo pelas 17:15, já fomos dar o primeiro passeio: Wojtyla, de batina preta, sem nenhum distintivo, nem de bispo ou monsenhor, sapatos tênis, de ginástica, Mons. Estanislau, o Inspetor dos salesianos, alguns outros salesianos, gente da segurança, nada de fotógrafos, nem jornalistas. A comitiva, a pé, dirige-se a um bosque vizinho, Le Cascatelle. Embevecido pela beleza da natureza o papa exclamava continuamente: Estupendo! maravilhoso! belíssimo! Chegando o grupo, perto da cascata, João Paulo sentou-se numa pedra e ali ficou recordando as longas caminhadas pelas montanhas da Polônia, quando jovem sacerdote, suas corridas de kajak, as velozes descidas de ski na neve, etc… Ao entardecer, de volta a casa, uma ceia sóbria, um pouco de conversação, uma visita à capela para uma oração particular e logo o Santo Padre retirou-se para repousar . No dia seguinte, 11 de julho, bem cedo, João Paulo já estava na capela, sentado no segundo banco. Depois da Eucaristia e o café matinal, o programa previa uma escalada ao Monte Meta, com uma primeira etapa na fonte Chiariglio, altitude de l950 metros. João Paulo se apresentou de calça marron, camisa branca, sapatos de montanha, boné, óculos escuros e bastão de alpinista. Guiava o grupo don Fabio Bianchini. A subida, íngreme, fez-nos esmorecer um pouco, não o principal alpinista, Wojtyła, que continuou firme três horas de escalada. Breve parada para o almoço, à base de pão, salame, vinho e fritada, temperado por uma agradabilíssima conversação, conduzida por nosso hóspede ilustre. Terminado o almoço, o céu começou a cobrir-se de ameaçadoras nuvens. Foi trabalho convencer nosso alpinista insigne que seria imprudente continuar a escalada ainda por umas duas horas, para chegar ao cume da montanha. Ele acabou convencendo-se e fomos a um pico mais perto, de onde se podia admirar todo o vale do Canneto. O pontífice se dizia encantado. Na descida, tivemos grata surpresa. Wojtyła, com sede, pegou uma caixa plástica de carne vazia, deixada ali por alguém, limpou-a e fez dela um improvisado copo, com o qual recolheu água de uma fonte. Começou a chover e nos abrigamos sob um grande guarda-chuva, que acolhia três pessoas. Foi emoção indescritível para mim estar sob o mesmo guarda-chuva do Papa…. Dia inesquecível para todos nós. No dia seguinte, 12 de julho, ainda a última excursão aos “Três Confins”, que divide o Lácio, o Abruzzo e Molise. Cantos populares italianos, orações e boa conversa acompanharam a dura caminhada.

Às 18,30, chegava o helicóptero que levou João Paulo já em traje pontifício de volta ao Vaticano. O tele-jornal daquela noite noticiava que o Papa fizera improvisa excursão ao Gran Sasso, bem longe de onde realmente ele estivera…”

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


busca
autores

Autores

biblioteca

Biblioteca

Entrelaços do Coração é uma revista online e sem fins lucrativos compartilhada por diversos autores. Neste espaço, você encontra várias vertentes da literatura: atualidades, crônicas, reportagens, contos, poesias, fotografias, entre outros. Não há linha específica a ser seguida, pois acreditamos que a unidade do SER é buscada na multiplicidade de ideias, sonhos, projetos. Cada autor assume inteira responsabilidade sobre o conteúdo, não representando necessariamente a linha editorial dos demais.
Poemas Silenciosos

Flickr do (Entre)laços
[slickr-flickr type=slideshow]