Lug Costa resomar 20 de dezembro de 2006

Em cada porta,
um gesto travado,
soluço amordaçado…
Em cada janela
um suspiro da alma
acalentando um pensamento profundo.

Na aparência o disfarçado sorriso,
discernimento temido,
lábios enfaixados em um sabor empoeirado…
(Re)contando as poucas lembranças
de momentos considerados felizes
mas adormecidos no coração lacrimante.

Descalço removes restos de pratos,
bebendo o vinho em taças fraturadas…
Arquivas no olhar o descaso cruel…
Perambulas pelas ruas do descaso,
contorcendo-se pela dor da consciência
de ser alguém abandonado.

Onde repousar o cansaço?
Como calar as revoltas sufocadas por tanto tempo?
Onde habitar sem beijar a lama envenenada?
Como reconhecer a trilha perdida no meio da escuridão?
O teu refúgio acolhe a ventania e a solidão embaçada…
mas ainda és capaz de acolher a serenidade
disfarçada na suave brisa da madrugada.

Exposto de pés feridos,
mãos calejadas,
alma transparente,
rosto enternecido,
força indomável,
espírito vigilante,
mostras a sabedoria dos marginalizados…
que trilham caminhos suspeitos e perigosos
Derrubas os poderosos,
saciando os famintos…
com as suas misérias e podridões
recolhidas nas calçadas e no meio da rua.

Purificas a oferenda dilacerada
sem intervalo,
com o suor do rosto
e o cheiro da humilhação

na escuta atenta,
de vozes rebeldes e incompreensíveis
palavra bebida na sofreguidão de prosseguir…
sem destino, sem repouso, sem alívio.

Na escuridão a LUZ explode fazendo crescer Tua presença…
presença delicadamente (des)percebida pela sensibilidade de quem ama
Nasceste como príncipe embalado no aconchego de folhas e ferrugens…
para ser na cidade dos homens um número, um nome, um menino pobre e abandonado.

No cotidiano dolorido és o Amor que canta a paz
que incomoda e profetiza tempos de serenidade e compreensão entre os homens
e anuncia nova sociedade,
herança dos que se libertam da vaidade opressora,
construção e luta para resgatar o caminho que se abre em pétalas entrelaçadas,
compromisso selado no testemunho de ser…
ser de Deus,
ser da divindade que espiritualiza a existência humana
numa noite qualquer
através da dor do parto.

30.11.2006 –  (resomar)
Natal de 2006
LugCosta –  – 18.12.2006 – Natal/RN

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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