No mês de julho p.p., L’Osservatore Romano, o jornal do Vaticano, completou 145 anos de ininterrupto serviço ao Papa e à Santa Sé, na defesa da fé e da religião. É um órgão da imprensa diária que se intitula, em sua edição italiana, jornal político e religioso. Ele tem um ponto de vista original e importante a apresentar aos seus leitores: observar as coisas do mundo a partir de Roma, a partir do Papa. Não é o órgão oficial da Santa Sé. O boletim oficial da Santa Sé chama-se “Acta Apostolicae Sedis”, editado pela Secretaria de Estado, com os textos oficiais, normalmente em latim ou na língua original, na qual foram emitidos. Já L’Osservatore Romano tem edição diária em italiano e atualmente, tem edições semanais em francês, em inglês, em português, em espanhol e a mais recente, em polonês. A edição portuguesa editada no Vaticano, como todas as demais, é transmitida por internet para Aparecida, onde os exemplares são impressos e difundidos para todo o Brasil. Os Salesianos são responsáveis pela direção administrativa e a direção técnico-tipográfica está confiada ao Irmão Salesiano José Canesso. João Paulo II o chamou: “Voz atenta e vigilante da atividade do Papa, missionário pelas estradas do mundo”. Nesse quase século e meio, L’Osservatore, fundado em 1861, fiel à romanidade de seu título, viveu as vicissitudes do “Rissorgimento italiano”, quando presenciou a Roma pontifícia tornar-se capital da Itália unificada e a Cúria romana refugiar-se dentro dos muros leoninos, em condição incerta, que parecia provisória. Assistiu e acompanhou de perto, os 2 grandes Concílios, Vaticano I (1870) e II (1962-´65). Lançou ao mundo a voz corajosa de Bento 15 quando chamou a I Guerra Mundial (1914-1918) um “inútil massacre”, como aliás, são todas as guerras. Documentou os Pactos Lateranenses, que criaram a Cidade do Estado do Vaticano em 1929. Viveu de perto os horrrores da 2ª Guerra Mundial, numa Roma, ameaçada pelos americanos e depois de 1943, convulsionada pelas lutas dos nazistas contra os “partigiani”, inimigos dos nazis e de Mussolini. Quando os enviados do “Duce” em busca de judeus invadiram a Basílica de S. Paulo fora dos muros, que pertence ao Estado do Vaticano, protegida pela extraterritorialidade, o órgão do Papa com ironia prognosticou no título de famoso artigo “Hodie mihi, cras tibi” – “Hoje foi para mim, amanhã será para ti”. Realmente, pouco depois, quando Roma foi dominada pelos aliados, os nazi-fascistas buscaram refúgio no território do Vaticano…
O perfil que dele traçou Papa Wojtyła tem validade permanente: L’Osservatore deve dar “uma visão cósmica da vida da Igreja fortemente ligada à Cátedra de Pedro, sem descuidar a imagem de uma Igreja aberta às expectativas do mundo.”
(*) É arcebispo emérito de Maceió