A tradição judaica se contrapondo aos ditames messiânicos considerava qualquer tipo de deficiência física, sensorial ou mental como uma maldição para o portador da mesma ou para sua família.
Esta absurda e errônea concepção foi desmentida pelo próprio Mestre, respondendo, certa vez, a seus discípulos, que não havia nenhuma culpa num determinado cego de nascença, nem em seus pais.
Durante muito tempo, o deficiente era sinal de castigo, possessão demoníaca, especialmente o deficiente mental, prova de culpa, vergonha para a família e ainda contaminava os puros, isto é, aqueles isentos de deficiência.
A pessoa fisicamente perfeita era privilegiada para o convívio social e considerada apta para louros.
Recordando a História, constatamos que a prática de eliminar deficientes vem de longas datas e permanece de alguma forma até hoje.
A purificação da espécie humana foi idealizada e vivenciada na Grécia Antiga, chegando até ao nazismo do cruel Hitler que propugnava por uma “raça pura”, matando idosos e defeituosos.
Neste imenso Planeta em que vivemos há um número enorme de deficientes. No Brasil, eles chegam a 27 milhões, 14,5% da população.
O culto e a exaltação à beleza física são muito enfatizados não só em nosso país, mas no mundo inteiro.
Basta lembrar os concursos das misses, o fanatismo que se dispensa a um cantor, ator, jogador e até político, tornando-os um ídolo, um mito pela perfeição anatômica, encanto corporal.
Quanto aos deficientes, são muitas vezes objetos de zombaria por parte de crianças e até adultos despreparados para essa tão delicada e inevitável realidade.
Os próprios deficientes envergonham-se de si mesmos e suas famílias procuram escondê-los da sociedade.
Há escolas que lhes negam matrícula, alegando que os pais não querem contato de seus filhos normais com os defeituosos.
A deficiência, segundo a Organização Mundial de Saúde, é toda a perda ou anomalia psicológica, fisiológica ou anatômica que consequentemente impossibilita a realização de uma atividade considerada normal para o ser humano.
O injusto quadro de discriminação ao deficiente esta mudando, quase desaparecendo.
O governo, campanhas de várias associações e religiões vêm se empenhando para proporcionar ao deficiente condições compatíveis com suas limitações e inserí-lo no meio social, com empregos e outras atividades.
Todas as pessoas são deficientes em potencial. É o imprevisível da vida!…
Um acidente, uma bala perdida, um erro médico, o acúmulo dos anos, um assalto podem transformar um “são” num defeituoso.
Felizmente, algo de positivo vem se fazendo em favor do deficiente, como a obrigatoriedade de construções com rampas e outras medidas.
No Senado há um projeto para criação de um Estatuto da Pessoa com Deficiência ainda este ano.
Até adestramento de cães para guiar cegos está se tornando realidade, pois uma 1ª cadela chegou ao Recife com essa maravilhosa e nobre finalidade.
Procuremos assimilar e vivenciar o verdadeiro sentido da Campanha da Fraternidade de 2006 que tem como tema “Fraternidade e Pessoas com Deficiência”, e como lema “Levanta-te, vem para o meio”.
Ajudemo-nos fraternalmente, deficientes ou não, pois somos todos suscetíveis de deficiências. Somos todos iguais.
Os desígnios de Deus são insondáveis…
(autora de Retalhos do Cotidiano)