Carlota Augusta 26 de setembro de 2006

Sabe?
Certa vez eu andei por uma rua verdinha, muito bonita, mas silenciosa;
uma rua só, sem ninguém… só eu.
Mas eu amava e era amada… e então(engraçado), de repente, a rua não
era só eu: eram as folhas, os pássaros, as flores… só eu de gente, mas não
só eu…e eu e o vento, eu e o raiozinho de sol, eu e a poeira que levanta,
eu e cada buraco da rua – enfim, eu e tudo; não eu só, sozinha; não uma rua
só,sozinha, só eu.Nada de solidão.Só eu de gente, mas não gente só, entende?
Mas eu amava e era amada!
Sabe ?
Certa vez caminhei na multidão… centenas de pessoas à minha volta e
talvez entre elas, algumas que eu conhecesse, talvez vocês, meus amigos.
Mas eu não amava nem era amada; talvez o fosse mas por não amar, não
sentia o amor que me davam.\\talvez eu fosse amada;talvez muito amada…Mas
naquela multidão, naquela rua tão cheia, contrário da rua sozinha, eu estava
mais só do que nunca. Por que? Não sei!
Se em outra rua, até a poeira eu amava, nessa rua, pelo meu desamor,
nem gente eu via mais .
Por que me senti só? Não sei!
Talvez, quem sabe, um olhar que eu esperava e não veio; talvez a mão
que eu esperava estar na minha não estivesse; talvez a palavra que eu
ansiava ouvir não foi pronunciada… então eu me senti só… me senti só sem
estar sozinha.
Sabe?
Essa solidão dói mais…
Talvez, quem sabe, não existisse o desamor dos outros por mim, mas
tamanho desamor meu pelos outros que só me sentia amada se todos os olhares,
se todos os gestos, se todas as palavras fossem minhas. Talvez, naquela rua
sozinha, eu viesse de um encontro onde tudo tivesse sido meu… talvez por
isso eu me sentisse amada… é, talvez fosse por isso.
Como a gente engana a si mesmo !!! Amor não é olhar, dar as mãos ou
falar palavras bonitas.
No amor,às vezes num grande amor, as palavras chegam a ser meio rudes,
mas o amor existe.
Toda a minha solidão não será do meu desamor pelos outros? Não será
porque eu não entendi muita coisa, ou melhor, porque eu fiz tudo para não
entender que o olhar que eu esperava foi dado a outro que realmente
precisava dele? Que a mão que eu esperava na minha, salvou alguém de um
abismo profundo naquela hora? Que as palavras que eu queria só minhas,
ajudaram alguém a viver?
É… por que chamar de solidão a um erro que é meu? Se estou só na
multidão, a culpa é minha, só minha, toda minha, do meu desamor, do meu
egoísmo profundo.
Talvez eu me sentisse só na multidão porque essa multidão era gente…
gente como eu não estava sendo!!!
Talvez eu me sentisse só por isso…
Talvez , não…
Era por isso !

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


busca
autores

Autores

biblioteca

Biblioteca

Entrelaços do Coração é uma revista online e sem fins lucrativos compartilhada por diversos autores. Neste espaço, você encontra várias vertentes da literatura: atualidades, crônicas, reportagens, contos, poesias, fotografias, entre outros. Não há linha específica a ser seguida, pois acreditamos que a unidade do SER é buscada na multiplicidade de ideias, sonhos, projetos. Cada autor assume inteira responsabilidade sobre o conteúdo, não representando necessariamente a linha editorial dos demais.
Poemas Silenciosos

Flickr do (Entre)laços
[slickr-flickr type=slideshow]