De forma tipológica e simplista, pode-se afirmar que existem três posturas pedagógicas – a autoritária (sobre), a libertadora (com) e a populista (para). Na realidade, as diferentes metodologias só existem em contínua tensão e conflito, num jogo permanente para superar umas às outras. Para ser coerente com uma visão dialética, não se pode temer uma visão crítica também sobre as palavras e conceitos e não se escandalizar com a briga das preposições. Às vezes, na Educação Libertadora parece haver quase um império da preposição com pela simpatia que o com traz no processo educativo.
O com aparece sempre como se fosse a afirmação de respeito às pessoas, a promoção do diálogo, o envolvimento de todas as pessoas interessadas em todo o processo ou aquele acompanhamento que não impõe, a consideração pelas diferenças e ritmos das pessoas… Até se poderia dizer que, após centenas de anos de hegemonia da prática e concepção autoritária, se tenha acentuado e confundido libertadora como nunca mais sobre nem para, sempre com.
A gente nunca cai pro lado que escorrega. Inclusive esquecendo que o com pode ter como limitante o reforço da mesmice, o aumento de gente sem horizonte, a satisfação com o status quo, a justificativa para o basismo (elogio ao atraso), aceitação pura e simples do contraditório senso comum, a ocasião para o oportunismo e a demagogia. Diante disso nos perguntamos: quem disse que fazer para só quer dizer manipulação, assistencialismo, clientelismo, paternalismo? E onde ficaria a gratuidade de quem ama e faz sem exigir correspondência? E por que ficar contra significa ser menos amorosa ou é ser mais arrogante e chata? Sem falar que certo respeito pelo popular pode ser a aceitação de reproduções introjetadas da cultura dominante – o povo sabe o que quer, mas quer o que não conhece.
Não foi pelos pobres que muitos profetas e revolucionários se colocaram, diversas vezes, contra a maioria? E que o fato de ser maioria, por si só, garante que as pessoas estejam certas; maioria não pode significar apenas que tem mais gente errada? Na luta pela emancipação da sociedade, teve gente que já contribuiu muito, não estando fisicamente nem entre, nem junto! Em tudo, a preposição justa depende em que estratégia se age e para alcançar que objetivo.
Agosto de 2006.