Numa galeria de arte de Praga, capital da República Checa, uma jovem, contemplando um quadro da crucifixão de Jesus, perguntou: “Quem fez isso nele?” Ao que, o seu namorado respondeu: “Foram os comunistas”… “As pessoas aqui nada mais sabem sobre Deus” afirma Olga Kopecka-Valeska, antiga apresentadora de uma rádio católica na Tchecoslováquia, hoje dividida em Eslováquia e República Checa. E continua Olga: “Eles não sabem o que é o Natal e ficam perdidos num museu de arte, quando vêem uma pintura de Jesus Cristo.” Tal como a moça da pergunta inicial.
Nesses dias, o “Los Angeles Times”, reproduzido no jornal japonês “The Daily Yomiuri”, estampava esta manchete espalhafatosas: “Para os checos, hoje em dia, pouco sobrou de sagrado na vida cotidiana.” E explicava: “Muitos neste país evitam uma religião institucionalizada. Com o comunismo e os vínculos forçados com a Igreja no passado, o futuro da fé está num talvez. Como a sua vizinha Polônia, onde catolicismo e nacionalismo são inseparáveis, assim também a República Checa nunca poderá esquecer sua identidade, toda feita em torno da Igreja. Os checos, diz o mesmo jornal, querem manter-se à distância, quando se trata de assuntos religiosos, e muitos vêem o Catolicismo como um opressor dos séculos passados, que foi sufocado pelo comunismo e agora vem sendo diminuído pelos brinquedinhos (“baubles”) do capitalismo.”
Um irmão marianista de Cleveland, Lawrence Cada, pesquisando a possibilidade de expandir a ação missionária de sua Congregação naquele país, afirmou que os checos estão hostis à religião, pelo que ela lhes fez no passado. Lembram João Huss, reitor da Universidade de Praga, que foi condenado à fogueira em 6 de julho de 1415, como líder dos hussitas, que se revoltaram contra a Hierarquia Católica, exigindo entre outras coisas,”o cálice aos leigos”, slogan que vem a ser a comunhão eucarística sob as duas espécies, hoje coisa tranqüila na praxe litúrgica da Igreja. Huss foi um precursor da reforma protestante e conta hoje com uns 100.000 sequazes, que querem ir à luta contra a Igreja Católica na República Checa.
Os dados fornecidos pelo “Los Angeles Times” informam-nos que apenas 33.6% dos 10 milhões de checos pertencem hoje a uma Igreja institucional e apenas 11.7% participam de atos religiosos. A Igreja Católica conta com 3 milhões de fiéis e a mais próxima dela, a Igreja Evangélica dos Irmãos Checos, terá uns 200.00 seguidores. Na vizinha Polônia, os dados são bem diferentes. Perto de 96% dos poloneses pertencem a alguma religião e 78% participam dos atos sagrados. Já na Alemanha são 77% os adeptos de Igrejas organizadas e desses, apenas 30% participam dos cultos. Na Áustria, são 88% e desses, 42,5% participam das funções religiosas de sua Igreja. Na Eslováquia, vizinha e antiga unida à República Checa, as estatísticas dão 76.8% de inscritos nas Igrejas, com 50% de praticantes, o que não é uma má participação.
“As Igrejas têm que saber como se aproximar mais de vida diária das pessoas” – diz o porta-voz da Conferência Episcopal Checa, Mons. Daniel Herman.
Yokohama (Japão) 24/07/2003
(Arcebisto Emérito de Maceió)