O poder baseado na força se perpetua, enquanto consegue ser sedutor. Para tanto, aperfeiçoa os mecanismos de atrair e envolver suas próprias vítimas.
Uma forma de calar a boca da revolta e, colocar os opositores na defensiva, é promover uma fartura periódica para os famintos – planos, abonos, prêmios, assistências… Como não só de pão vive o povo, tratam também de multiplicar espetáculos que enchem os olhos, curam a mente, deleitam a fantasia e canalizam a explosão das energias acumuladas.
Uma invenção, sempre recriada é o convite à participação; às vezes, chamada também de parceria. Não se trata, é claro, da participação como a oportunidade de SER PARTE, de SER SUJEITO, de igualdade de direitos, de espaço de decisão. Essa participação tem o conteúdo da CO-LABORAÇÃO. (Colaborador virou um termo militar para referir-se às pessoas que, numa ocupação territorial, aceitam prestar serviços aos invasores). Participar, então, tem o significado de passar para o lado de quem detém o poder, de alguém achar que foi admitida como cúmplice, na turma que arquiteta os planos. Sempre pode ser o pacto da mediocridade com adesão interesseira a uma proposta, sob a justificativa de pragmatismo, tolerância, diálogo, democracia… Nos dois casos, é uma cooptação que esvazia a pressão pelos direitos e ilude os anseios e a disposição das pessoas e da população. E, por não reconhecerem a PRESENÇA DA OUTRA PESSOA, com igualdade de poder, não passam de estratégias recicladas de dominação.
Em tempo – participar nas eleições seria ser trouxa?
junho de2006.