Conheço uma família. O casal teve muitos filhos, entre eles, dois deficientes: nunca caminharam, andam se arrastando pelo chão; não falam…
Desenvolveram o corpo ( hoje já têm mais de 40 anos, com corpo de homem) mas não desenvolveram os membros inferiores e a mentalidade.
O pai, um lutador para criar sua prole. Mais tarde, como simples funcionário da Prefeitura, foi muito injustiçado, e terminou sendo dispensado do trabalho: alegaram, por causa da idade…
Os outros filhos se casaram, saíram de casa (coisa natural). Ficaram com os pais, somente os dois deficientes. Conseguiram aposentar um. Durante algum tempo permitiram que fossem levados à “Escola Pestallozi”, o que era muito bom, pois tinham além de outras vantagens, a alimentação. Mas depois não foram mais aceitos na referida “escola”, alegando a idade…
Há poucos anos faleceu o pai, inesperadamente.
E agora… ficou a mãe, idosa, cega, com os dois filhos, numa pobreza extrema. Lutaram para aposentar o outro filho, mas não conseguiram. Nem ela é aposentada…

Visitei esta família. Encontrei: os dois deficientes deitados num sofá velho e a mãe sentada, silenciosamente em frente a eles. Isto acontece todos os dias, enquanto aguardam que uma pessoa ou um dos filhos (todos pobres também) chegue ao menos para uma visita.
E assim continuam cada dia, nesta vida, sem revolta, nem lamentação, numa admirável paciência!
E os doentes mostram-se alegres, sorridentes: não conhecem outro tipo de vida!…
Reflito comigo: Quantas pessoas, por este Brasil a fora, nem lamentam as injustiças de que são vítimas – mas conservam uma FÉ e uma ESPERANÇA, mesmo no escuro de sua vida!…
Os políticos certamente nem vão àquela casa, pois sabem que dali não sairá nenhum voto!…
Mas essas pessoas vivem, como muitas outras, e são brasileiras… têm também seus direitos!…

(20/06/2006)

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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