Na região pernambucana que concentra municípios pobres, entre eles Manari, taxas de suicídio chegam a ser onze vezes a média brasileira
A região pernambucana que concentra municípios de baixo IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) – na parte do Estado que faz divisa com Alagoas -, apresenta alto índice de depressão seguida de ações contra a própria vida. O alerta foi feito pelo Cremepe (Conselho Regional de Medicina de Pernambuco) e o Sindicato dos Médicos, que em abril deste ano promoveram caravanas de estudo presencial em várias cidades da região e, em junho, apresentaram os primeiros resultados parciais. Petrolândia (30 mil habitantes) e Itacuruba (4 mil) foram os municípios que mais chamaram a atenção da equipe, seguidos por Manari (13 mil) e Inajá (15 mil).
Em quase todas as casas de Itacuruba, há pelo menos um caso de suicídio ou tentativa de suicídio, segundo os conselhos municipais de saúde. Nas outras cidades, a situação é similar. Dados do Cremepe revelam que, enquanto Pernambuco contabiliza 4,19 suicídios para cada 100 mil habitantes (no Brasil, a média é de 4,34), em Petrolândia foram 25 suicídios para cada 100 mil e, em Itacuruba, o número chegou a 50. O presidente do Cremepe , Carlos Tavares Corrêa Lima, ressalva que o estudo é preliminar, ainda sem caráter científico. “É um alerta, pois identificamos um potencial devastador com a miséria, aliada à falta de atividades (ócio total) e falta de perspectiva de vida”, comenta.
A situação tende a se agravar ainda mais, prevê o médico. “São pobrezas e ócios completamente diferentes entre a cidade e o campo. Na cidade, quem não tem dinheiro e está desempregado vai procurar um emprego e pode continuar procurando, porque tem esperança de que, um dia, possa conseguir. No sertão, nem isso existe, e é de conhecimento geral. Além do desemprego e fome, não há nada para passar o tempo. Nas cidades, em último caso, no desespero total, o cidadão pode até roubar; no campo, não tem o que ou a quem roubar, não há esmola para pedir, é um quadro de desolamento com graves conseqüências”, analisa Corrêa Lima.
Durante a passagem da caravana por Manari, o prefeito não estava na cidade e nenhum secretário ou conselheiro municipal de saúde se disponibilizou para falar sobre os problemas. Os integrantes da caravana perguntaram aos moradores desses municípios o que podia ser feito para melhorar um pouco a vida deles. Em Inajá, vizinha de Manari, as respostas foram simples e tocantes: cinemas, praças com parques para as crianças e transporte para visitar parentes em cidades próximas. “O que a população pede não é nada tão exorbitante para a quantidade de dinheiro que se gasta”, diz o coordenador da caravana, Ricardo Paiva.
O médico Corrêa Lima critica a importância dada pela mídia ao IDH, por considerar uma realidade maquiada, um número bem abaixo da vida real. “A situação nessas cidades é muito pior do que revelam essas estatísticas, até porque boa parte é baseada em registros oficiais. O fato é que, nas cidades mais pobres que visitamos, o que encontramos foi uma gestão pública ignorante, despreparada e o povo como massa de manobra”,declara. A caravana também constatou que programas estaduais, como o Projeto Renascer e o Leite de Pernambuco, não chegam a vários municípios listados como beneficiários. “O Estado brasileiro abandonou essa gente e a verdade é que, no sertão, até o arco-íris é preto e branco”, define.
(fotos de João Carlos Rodrigues)
Leia a continuação da reportagem em :
http://www.pnud.org.br/pobreza_desigualdade/reportagens/index.php?id01=2114&lay=pde
‘Troféu’ de pior IDH impulsiona Manari
Sem obras, água ainda vale ouro em Manari
Manari, onde IDH é baixo e água vale ouro