Dasilva 11 de junho de 2006

“Se a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tampouco a
sociedade muda” P. Freire

Não há uma forma única, nem um único modelo de educação. A escola não é o
único lugar onde ela acontece (será ele o melhor?). O ensino escolar não é
sua única prática nem o professor profissional seu único praticante. Em
mundos diversos, a educação existe diferente: existe em cada povo e em povos
que se encontram; entre povos que submetem outros povos e que usam a
educação como um recurso a mais da sua dominância.

A educação é uma das maneiras que as pessoas criam para tornar comum como
saber, idéia, crença aquilo que é comum como bem, como trabalho ou como
vida. Pode existir imposta por um sistema centralizado de poder que usa o
saber, e o controle sobre o saber, como armas que reforçam a desigualdade
entre as pessoas, na divisão dos bens, do trabalho, dos direitos e dos
símbolos. Mas, pode existir como uma permanente construção e reconstrução do
saber que serve a emancipação e a afirmação da igualdade fundamental entre
pessoas e nações.

A educação é uma fração do modo de vida dos grupos sociais que cria ou
recria uma cultura. Produzem e praticam formas de educação para que elas
reproduzam, entre quem ensina e aprende o saber das palavras, os códigos
sociais, as regras de trabalho, os segredos da arte, a religião e a
tecnologia que qualquer povo precisa para reinventar a vida do grupo e
sujeitos.

Através de trocas sem fim, a educação ajuda a explicar, às vezes, a ocultar
e inculcar a necessidade da existência de uma ordem. Pensando que age por si
próprio, livre e em nome de um coletivo, o (a) educador (a) imagina que
serve ao saber e ao educando, mas pode estar servindo a quem o constituiu
professor a fim de usá-lo para usos escusos, ocultos também na educação.
Quem manda divulga que o melhor é quem melhor copia. Por isso, a cultura
oficial exalta as virtudes de papagaio e a fidelidade de cachorro a seu
dono, mas exaltando-o como o melhor amigo do homem (também os estranhos?).

Toda educação tem uma intencionalidade bem explícita, pois, todo
conhecimento tem um objetivo, uma direção e uma finalidade. O conhecimento é
sempre conhecimento de alguma coisa ou de alguém a partir de uma
perspectiva. Podemos ter uma ou várias intenções diante de um conhecimento,
comportamento ou ação. Podemos ter intenções claras e intenções ocultas ou
“segundas intenções”. A intencionalidade dá, de certa forma, a direção do
conhecimento ou a direção de uma ação. A intencionalidade política da
educação popular significa que as pessoas que fazem educação popular
direcionam sua ação a partir de uma ideologia ou de valores ou a partir de
um direcionamento que pretendem dar às forças sociais e políticas presentes
no meio dos pobres. (I. Gebara).

A Educação é uma ferramenta de uma estratégia. Não se forma uma pessoa e
depois se vê o que ela vai fazer. Até porque o conteúdo, o método e o ritmo
de um processo de formação dependem de uma concepção de mundo, de uma visão
de sociedade e da opção por certos princípios e valores. Assim, a educação
está sempre a serviço de uma ideologia, como instrumento para realizar sua
estratégia. É claro que o próprio processo educativo contribui para a
explicitação, formulação e aperfeiçoamento de uma estratégia.

Da mesma forma, toda educação está à serviço de uma organização. O que une
as pessoas e grupos, para além das explicações românticas, é a busca da
realização de um anseio comum ou da defesa de um interesse ameaçado. Para
dar coesão a um grupo, se montam processos de convencimento; esse grupo, por
sua vez, tenta tornar possível uma conquista e a garantir seus interesses.

A educação é um ato político, como um ato político é educativo. Adotar e
discutir princípios e posturas pedagógicas é fazer política. Não existe
educação politicamente neutra. Numa sociedade de classes não pode haver
educação que seja a favor de todos – será sempre a favor de alguém, contra
alguém. A educação vai servir para que a pessoa se acomode ao mundo ou se
envolva na sua transformação. A politicidade da educação questiona quem
educa sobre a educação que se pratica na sociedade capitalista. Ao ser
transformadora só pode ficar contra quem se beneficia com a atual situação e
a favor de quem é prejudicada por ela. Se for conservadora estará a favor
dos grupos beneficiados por ela.

Toda educação segue uma metodologia. Nascendo de visões antagônicas, a
educação libertadora e a conservadora têm cada qual sua metodologia. Na
educação domesticadora tornar comum pode significar a naturalização da
prática metodológica de enfiar goela a baixo, diferentes pacotes, para
perpetuar ou transformar uma ordem dominante. Quem está oprimida “aprende” a
assimilar conteúdos e modelos e a reproduzi-los, fortalecendo a estrutura
social desumanizante, favorável a minoria. Já na educação libertadora tornar
comum pode significar a construção coletiva que envolve as pessoas no
processo de resolver as perguntas do cotidiano e a lutar por sua
emancipação. Essa metodologia, onde as pessoas entram como parte, pode
estimular a classe oprimida a romper com estruturas injustas e a construir
uma nova ordem onde haja lugar para elas, onde sejam protagonistas, com
poder.

Para superar qualquer forma de endoutrinamento ou dogmatismo todo processo
de educação/formação deve contribuir para que as pessoas tenham capacidade
crítica. Se, por um lado, é preciso evitar toda forma de basismo (elogio
oportunista de um falso saber), não se pode cair na várias formas de
manipulação ou de imposição que treina obedientes seguidores. Sem visão
crítica não pode existir conhecimento verdadeiro e permanente da realidade.
Soldadinhos de chumbo não são protagonistas, nem a repetição de fórmulas
acabadas servem para a transformação da sociedade.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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