5 de junho de 2006
Ouviu-se um grito naquela manhã caótica. O morro deslizava em sua consistência trêmula e branda rumo ao rio que transbordava sofrimentos. Seu barraco estava a poucos metros do desastre. Que chovesse mais alguns minutos e estaria desabrigada. Pensou em abandonar sua habitação. Apressava-se em descobrir quanto tempo ainda teria. A ansiedade roubava-lhe segundos preciosos. “Só uma reza” – pensava. “Meus filhos não” – implorava. Enquanto tentava agarrar as trouxas e os sete indigentes que cresciam ao léu naquele pequeno espaço. Venceram os minutos e foram tragados pela enxurrada. Do outro lado da cidade bem amparada em sua residência de costumes. Uma senhora terminava suas orações. “E livra-nos do mal, para todo sempre. Amém!”
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.
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