O silêncio é a arma dos fracos, dos derrotados, dos incompreendidos, dos tímidos e recalcados? É possível esconder-se nele, mascarar nossas fragilidades e fugas da realidade? Infelizmente não. O silêncio não nos esconde, pelo contrário, desnuda tudo e todos. O silêncio é auto-revelativo. As palavras no silêncio depõem as suas máscaras e revelam sua verdadeira face. O silêncio não interroga, não condiciona respostas. Nele, tudo fica iluminado de sabedoria.
Muita gente pensa que o silêncio é uma questão de ausência de barulho. Mas estão redondamente enganadas porque o barulho também tem o seu silêncio constrangedor.
O silêncio não é o impessoal, o indefinível, uma experiência exótica que alguém possa buscar como auto-contemplação do próprio egoísmo. O silêncio é silêncio em alguém; é silêncio de alguém; e o mais desconcertante é que o silêncio é silêncio de alguém em relação a uma outra pessoa ou objeto.
O silêncio nem é arma e nem muito menos defesa de alguém. Ele tem a função de colocar-nos diante da realidade do mundo, de sua suprema infinitude. Nos transporta para além de nossos limites, para além de nossos sonhos. De um certo modo o silêncio nos diviniza no universo.
Nele não podemos encontrar nada: o silêncio é uma atitude de com-templar, de penetrar no templo do mistério da existência humana.
Quando aprendemos a silenciar percebemos quanto somos limitados no nosso modo de penetrar na nossa verdade. A verdade de cada um de nós não está e nem depende da nossa capacidade de apreender a realidade e estabelecer conecções rigorosamente lógicas. A verdade de cada ser humano repousa no mais profundo silêncio de Deus. Este mistério é o silêncio-aproximação onde o amor acolhe e se deixa acolher. A verdade do homem é o amor. É nele que existimos e que nos consumimos até o último suspiro de vida. O silêncio-aproximação tudo envolve, tudo penetra, sem nada possuir.
Quando aprendermos a silenciar descobriremos a relativizar as palavras e seus significados. O silêncio nos coloca diante da realidade e não tenta possuí-la, aprisioná-la num conceito, mas nos lança em direção a sua totalidade.
O silêncio recolhe toda dor e sofrimento e os transforma em possibilidade de vida: vida-amargura, vida-dor, vida-desespero. Nele há sempre a possibilidade de entrega sem tréguas. Somente no silêncio conseguimos recolher os pedaços partidos de nossos sentimentos.