Se um estrangeiro, não antenado com as notícias esportivas do mundo, chegasse nesses dias ao nosso país, julgaria que estávamos celebrando importante data cívica, o Descobrimento, a Independência, a Proclamação da República ou coisa assim. O país todo ornamentado de bandeiras nacionais, o povo vestido com as cores nacionais, enfim, aos olhos do turista estrangeiro, deveria tratar-se de um mega evento nacional, uma excepcional celebração cívica.

Como bom brasileiro que pretendo ser, não sou contra o futebol. Mas não consigo compreender que um esporte, por mais “nacional” que seja, se transforme em extraordinária celebração cívica. Que uma partida de futebol numa Copa mundial seja alçada ao nível de um culto à Pátria, que a ela se dê o sentido de civismo e uma decisão esportiva seja algo que interesse ao futuro da Nação e tenha consequências para o progresso nacional, acho que há algo de exagero nisso. “É o Brasil inteiro acompanhando a narração dos locutores” – dizia entusiasmado um deles. Até a devoção a Santo Antônio, o santo mais popular do Brasil, desta vez foi invocada para proteger o desempenho de nossos jogadores na partida de abertura da participação na Copa do Mundo 2006.

Acho que há um entusiasmo fora das medidas. Quando nosso país precisa trabalhar muito para vencer o subdesenvolvimento, a nossa juventude tem que estudar muito mais para se preparar para um futuro melhor, penso que nossas energias não deveriam se aplicar tanto ao futebol e à torcida pelas vitórias esportivas…
O futebol no Brasil de hoje é o verdadeiro “ópio do povo”. Esquecem-se os grandes problemas nacionais, esquecem-se os assuntos graves de interesse nacional e pensa-se só em futebol. Há exagero, sim…
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Bem, como estamos na época dos códigos, para divertir-nos um pouco e sabendo que é só uma brincadeira, vamos também consultar um código. Não o código de Hamurabi, na sua estela negra, com os preceitos da lei do talião, anterior a Abraão (c. de 2000 a. C.), que se pode ver no Louvre, nem o famigerado código Da Vinci, falso e enganoso, tão difundido pelo livro de Dan Brown e pelo filme de Ron Howard. É algo mais ingênuo e simples: é o código de Yokohama. Eu o li com um grupo de turistas em 2003 no estádio, onde o Brasil ganhara no ano anterior o pentacampeonato mundial. Trata-se do seguinte: o leitor amigo coloca em duas colunas os anos das vitórias do Brasil na seguinte ordem: em cima, o ano da 3ª vitória (1970), abaixo, a 2ª vitória (1962) e por fim, a 1ª vitória (1958). Do outro lado, na segunda coluna, pôe no alto a 4ª vitória (1994), abaixo, a 5ª vitória (2002) e por fim, ao lado da 1ª, a anunciada 6ª vitória que seria ? 2006. Agora, o leitor some o ano da 3ª vitória (1970) com a 4ª (1994) e dará o número 3964. Somando o ano da 2ª com o da 5º, dá também 3964. E finalmente, somando a data da 1ª com a possível 6ª, o mesmo resultado: 3964! O mesmo resultado das três somas, sempre 3964, incluindo o próximo hexacampeonato!

Que o Senhor, nosso Deus, tenha compaixão deste país da bola. Abençoe nossos craques mas sobretudo nós, os torcedores. Faça com que o país da bola seja campeão da ética na política, campeão dos valores cristãos para a nossa juventude, tão esportiva e tão preocupada com a seriedade da vida.

(*) É arcebispo emérito de MaceióO PAÍS DA BOLA

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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