Li o livro de Dan Brown (o best-seller da década, com 40 milhões de exemplares vendidos) e assisti ao filme de Ron Howard, (aquele que foi vaiado pelos cineastas presentes no último festival do cinema em Cannes… ). Aceito a opinião de uma revista de circulação nacional, afirmando que neste filme a única verdade é a de que será visto por milhões de pessoas em redor do mundo, tendo sido lançado no mesmo dia em todo o planeta num fenomenal esquema de distribuição. Fora desse fato indiscutível, o chamado “O Código da Vinci” é mentira, só mentira, do título à última frase, da primeira à última cena. É mentira teológica, mentira bíblica, mentira histórica (? Constantino e o Concílio de Nicéia) e até, diria, mentira universitária, porque nunca houve cátedra de simbologia na Universidade de Harvard.

A Prelazia pessoal Opus Dei é uma entidade de alta espiritualidade fundada por um santo, S. Josemaria Escrivá e jamais seria capaz de receber dinheiro do Vaticano ou de quem quer que fosse para cometer algum crime. No Opus Dei, admiro muito o fato de que seus membros são fidelíssimos ao Papa e aderem de corpo e alma à fé da Igreja Católica. Também por isso muita gente odeia esse Movimento, como se vê no livro e no filme. O Opus Dei enviou aos dirigentes e acionistas da Sony Pictures uma carta aberta na internet solicitando que a produtora do filme insira na película a costumeira declaração: “Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com pessoas e fatos da vida real, trata-se de mera coincidência.” É o mínimo de honestidade que se poderia esperar dos produtores deste filme de falsidades e insultos a Jesus e à sua Igreja.

Gostaria de fazer duas observações. Maria Madalena em nenhum versículo da Bíblia é qualificada como pecadora. Apenas em Lucas 8, 2 diz-se que dela haviam saído sete demônios. Não confundi-la com a adúltera que estava para ser apedrejada de João 8, 3, ou com a pecadora inominada de Lucas 7, 37ss, que lavou os pés de Jesus com lágrimas e enxugou com seus cabelos, nem com Maria de Betânia, irmã de Lázaro, que na última semana da vida de Jesus, ungiu seus pés com um nardo precioso, provocando a recriminação de Judas ( V.João 12, 1-8).

Com os bispos da Bélgica, penso também que os cristãos nada têm a temer com esta obra, sem nenhum fundamento histórico sério e que, pelo contrário, deve provocar a vontade de um conhecimento melhor de Jesus e da história do cristianismo. Os bispos americanos abriram uma página na internet (www.jesusdecoded.com), fizeram um documentário na TV e um opúsculo de 16 páginas, sob o título “O verdadeiro Jesus”. No site, eles afirmam que não estão preocupados com os danos que um best-seller possa provocar à Igreja, que tem um bilhão de fiéis. Não é essa a questão, dizem. A preocupação pastoral da Igreja é que se uma só pessoa ficar com uma imagem destorcida de Jesus ou da sua Igreja, será para nós como se essa pessoa fosse o mundo inteiro. O arcebispo salesiano, secretário da Congregação da Doutrina da Fé, Angelo Amato, definiu a obra de Dan Brown como “um conjunto de ofensas, calúnias, erros históricos e teológicos”. Já o Cardeal francês Paul Poupard, do Conselho da Cultura, acha que o sucesso do filme é um indicativo chocante, seja da ignorância das pessoas como do prazer voluptuoso que a mídia sente de promover obras que não têm base na verdade. Já o Card. Arinze numa entrevista na televisão, sugeriu que os cristãos recorressem aos tribunais, acrescentando: “Não podemos permanecer de braços cruzados”.

Acho que o livro e o filme deverão despertar em nós um maior amor a Jesus, um conhecimento mais profundo de sua figura divina, como os Evangelhos nos apresentam, e uma fé mais comprometida em Cristo nosso Salvador. Na pg. 401 do livro, já perto do final, lê-se uma tênue expressão de esperança quando um dos personagens diz para o chefe de polícia: “Um pouco de fé opera maravilhas, capitão. Um pouco de fé.”
Giuseppe Ricciotti termina sua maravilhosa “Vita di Gesù Cristo” (que foi meu estudo querido nos tempos de estudante de teologia) com esta expressão forte: “A luta em torno de Jesus sinal de contradição continuará, até que haja neste mundo os filhos do homem…” É a profecia de Simeão feita a Maria: Este Menino é posto como um sinal de contradição (V. Lc 2,34). E Santo Agostinho completa: “A Igreja avança peregrina entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus (De civitate Dei, 18, 51, nº 2)”.

(*) É arcebispo emérito de Maceió e assistente eclesiástico de Fernando de Noronha.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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