Nos 27 anos em que exerci o ministério episcopal (de 1975 a 2002) nunca assisti canonicamente matrimônios festivos dentro das três dioceses, em que trabalhei. Apenas nas Visitas Pastorais que, graças a Deus, as fiz em grande número, presidi aos chamados “casamentos de reparação” de fiéis cristãos que já viviam alguns anos maritalmente, sem nenhum impedimento canônico. Em Fernando de Noronha, já assisti a dois desses.
Hoje, a minha experiência pastoral diz-me que quando falo com os nubentes na preparação para o matrimônio, fico com a nítida impressão de que eu estou falando grego e eles falam turco… Isto é, falamos de sacramento – sinal da graça – símbolo da união de Cristo com a Igreja, das disposições espirituais para receber a graça sacramental, da união de alma e coração, com um sério compromisso para toda a vida. Enquanto vou falando, eles estão pensando no vestido da noiva, no buquê, nos cinegrafistas, no cantor que vai executar a indefectível “Ave-Maria”, às vezes até fora de hora, nas damas-de-honra e padrinhos, como será o automóvel branco para levar os recém-casados, onde será a lua-de-mel e coisas semelhantes.
Então, uma proposta pastoralmente arrojada. Vamos separar as coisas. Faz-se uma cerimônia realmente religiosa, com quase todo o ritual, possivelmente, com a celebração piedosa da Santa Missa, (ou ao menos com a Sagrada Comunhão) em ambiente restrito, religioso, recolhido, para poucos. É o Santo Sacramento do Matrimônio, com o recebimento do consentimento dos noivos, a bênção nupcial e quase tudo o mais. No dia seguinte, em outra oportunidade, haveria a tal “festa de arromba”. O Padre poderia, no máximo, dar as alianças (que na verdade são os dois que se dão mutuamente…) e fazer um grande e aclamado discurso, com todas as músicas possíveis e imaginárias. Mas o sacramento, o santo sacramento do Matrimônio, já havia sido celebrado no recolhimento e na oração. O resto é só exibição e fausto… E a igreja como teatro para essas coisas…
Que tal? Que dizem os canonistas, pastoralistas e liturgistas?
Parece-me solução arrojada e boa…

(*) É salesiano, arcebispo emérito de Maceió.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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