Indignação! – foi esse o sentimento que se apoderou de meu espírito, ao tomar conhecimento de fatos tristes ocorridos na Casa Dom Bosco dos meninos-de-rua de Maceió, protagonizados por quem deveria defender o direito e a justiça dos cidadãos.
Em primeiro lugar, acusa-se a Casa Dom Bosco de fazer os meninos lá educados passarem a pão e água, como única alimentação. Depois, estratégicamente e subrepticiamente, aproveitando-se a ausência justa do Diretor da Casa e Vice-Presidente da Fundação mantenedora, invade-se (literalmente “invade-se”) sem prestar atenção a ninguém, com aparato policial, como se se estivesse desmontando uma célula de traficantes aquela casa de educação. Vai-se na dispensa e se seqüestra (não seria mais exato dizer “se rouba”?) aquilo que no juizo daqueles senhores estava de sobra e se leva não sei para onde o fruto da rapina. Aqui, é preciso notar que todos aqueles alimentos retirados de lá eram fruto de doações espontâneos e todo o fim de mês é distribuído para outras entidades assistenciais, que não contam com a ajuda dos benfeitores que a Casa Dom Bosco conquistou com seu trabalho sério e reconhecido por muitos.
Mas onde estamos? Isso é estado de direito ou puro e simples arbítrio? Não se tem notícia de fatos similares em nenhum regime totalitário. Isso reflete preocupação com a redenção social e moral dos meninos abandonados, meus queridos “cheira-cola”, ignorados por essa sociedade corrupta e hipócrita. Ou é simplesmente vingança contra quem tomou medidas saneadoras do serviço público?
Apelo daqui, do arquipélago de Fernando de Noronha onde me encontro em atividade pastoral, ao Exmo. Sr. Governador do Estado, Eng.o Ronaldo Lessa, em quem confio muito e que já corajosamente defendeu a Casa Dom Bosco em outras oportunidades difíceis. Confio na visão política do Sr. Prefeito Municipal, que pensou em confiar à Igreja na pessoa de um seu humilde sacerdote a impossível tarefa (como se revelou pelos fatos) de moralizar o serviço de assistência à infância e à adolescência em nossa querida Maceió. Suplico a essas duas autoridades que mandem examinar os fatos e tomem as providências que julgarem cabíveis.
Mas se se tratar de tomar medidas preventivas contra incêndios ou furacões, tudo bem. Assim, Maceió ingressa triunfalmente no 1o. Mundo, notadamente o Canadá e os Estados Unidos, onde estive várias vezes e onde severas medidas têem que ser tomadas na construção dos prédios públicos, previstas na planta. Que glória para Maceió, quando todos os edifícios escolares – mas todos mesmo, e não apenas a Casa Dom Bosco – contarem com sofisticados equipamentos contra incêndios. Que maravilha!
E até as inofensivas muriçocas – vejam lá que requinte de perfeição! – foram alvo da sanha reformadora dos atentos defensores da saúde dos meninos da Casa Dom Bosco. Elas não poderão mais incomodar o sono dos nossos meninos, antes acostumados a dormir sob as marquises das lojas do centro da cidade e que agora dormem em confortáveis colchões com camas de ferro, conseguidas com os recursos do projeto Nota 10 do Governo Estadual. Interessante é que eu, depois de Arcebispo emérito, sempre dormi na Casa Dom Bosco de janelas abertas, sem nenhuma proteção e nenhuma agressiva muriçoca pretendeu incomodar meu sono de justo de 78 anos de idade.
Mas, meus amigos, nada de tudo isso aí, que uma boa conversa e um leal entendimento não possa resolver, sem atitudes atrabiliárias, havendo sempre boa vontade por parte dos dirigentes da Casa Dom Bosco.
(Advirto que esse artigo é de minha inteira e total responsabilidade, e que uma cópia dele está sendo enviada agora ao Sr. Governador do Estado e ao Sr. Prefeito municipal).
(*) Presidente da Fundação João Paulo II de Maceió